Omã

OMÃ-SUR, rendi-me ao primeiro olhar.

Depois da emocionante e cénica viagem de barco tradicional pela Península de Musandam e da chegada épica ao pôr do sol ao porto de Mutrah em Muscat, só pensava:”Será que Omã ainda me irá surpreender?” Pois a resposta está muito clara neste post.

Nas minhas pré-pesquisas de viagem tinha já ficado desconfiado de que iria gostar desta cidade. De facto não gostei, fiquei decididamente “apanhado” . Sei que sou algo fácil no que diz respeito a amor em viagens, tendo a ver tudo o que é positivo, porquê ? Talvez porque viajar é uma paixão . Aqui, foi amor à primeira vista.

Ao chegar, ainda dentro do autocarro avistei ao longe uma cidade em que o branco domina contrastando com o azul do mar e a cor térrea do deserto ao redor. Um cromatismo de cores absolutamente cativante. Como não ficar rendido a isto ?

Sur-Omã

Além disso, quem me acompanha já sabe que não sou perdido de amores por cidades muito grandes, e Sur não o é.

Situada a cerca de 150km a sul de Muscat, e com cerca de 100mil habitantes, é a capital da Região Ash Sharqiyah, região esta mais conhecida pelo seu extenso deserto. Mas não foi o deserto que me chamou a vir aqui. Foi a cidade em si, foi saber que nas suas belas praias todos os anos regressam tartarugas verdes vindas da Malásia, Somália, Austrália para pôr os seus ovos, e também por ser aqui o principal ponto de construção dos barcos Dhow, aqueles mesmos barcos tradicionais que levam os turistas no passeio de Musandam.

Cheguei vindo de autocarro após 2h de viagem vindo de Muscat.  Aqui tinha previamente estabelecido contacto de couchsurfing com um local e acabei por conhecer uma das pessoas mais fantásticas em viagem até hoje, o “Ali“.

Ali” chegou no seu carro depois do trabalho, foi-me buscar à paragem do autocarro e resumidamente levou-me a conhecer todos os sítios que quis, além de me oferecer a dormida. Senti que houve uma boa energia entre nós. Conversámos muito e chegámos à conclusão que até tivemos algumas vicissitudes na vida semelhantes. É claro e tenho noção que todo este “ambiente” contribuiu para o meu sentimento em relação a Sur. Mas mais uma vez: As viagens não são só os lugares.

Tinha programado apenas um dia e uma noite aqui. Senti que deveria ter ficado mais, mas decidi privilegiar outra zona de Omã. Quando o tempo é pouco há-que fazer escolhas. Mas sei que irei voltar…

Há muito para fazer em Sur. Como: Snorkling, pesca tradicional (à linha), avistamento de tartarugas, passeios no deserto, praia. Como devem calcular não tive tempo de experimentar todas as actividades.

Além da cidade em que percorremos a pé a sua bela marginal e centro histórico (que é quase a cidade toda), “Ali” fez questão ainda de me mostrar uma linda aldeia próximo de Sur que tem o sistema de irrigação Falaj – considerado património UNESCO (existem pelo país cerca de 3000). Esta forma inteligente de aproveitar os escassos recursos terá sido criado por volta do séc.VI, embora buscas arqueológicas recentes demonstrem que terão existido sistemas de irrigação semelhantes por volta de 2.500AC. 

A gestão e a partilha equitativa da água em Omã terá sido sempre uma preocupação, havendo para isso centenas de torres de vigia espalhados pelo Sultanato para defendê-lo.  A gestão e partilha equitativa da água continua baseando-se no princípio da solidariedade e nos valores comuns das populações. Quando o bem é escasso há que aprender a utilizá-lo de forma a chegar a todos.

Falaj

A água é aproveitada de fontes subterrâneas e depois canalizada através da força da gravidade para aproveitamento doméstico e na agricultura. Bem visto!

Ali” confessa-me que gosta muito de vir para aqui passear e relaxar depois do trabalho. De facto serve muito bem esse propósito, pois além das “Falaj” e das ruínas de casas tradicionais aqui existentes, mais nada há para ver.

Foi um passeio muito agradável, mas tínhamos de rumar em direcção a Sur para jantar e ir até à praia de Ras al Hadd à procura de…tartarugas.

Existem duas zonas principais onde é possível avistá-las: Ras al Hadd e Ras al jinz. Sobre a segunda pouco sei, apenas que li algures na internet que existe um resort e que por vezes a quantidade de pessoas para ver este “processo” é algo exagerado. Posto isto, decidi logo optar pela primeira tendo referências de que seria mais sossegado, mas nada como ter alguém local para confirmar e “Ali” concordou.

Já era noite quando chegámos à praia de Ras al Hdd. Agradou-me ver pouca gente. Só eu, e um simpático casal de italianos fazíamos figas para conseguir ver uma tartaruga verde.

Somos recebidos por um amigo de “Ali” que prontamente e de uma forma bem entusiasta começa a explicar todo o processo. Deixo aqui algumas curiosidades:

1º A época alta para avistar a chegada de tartarugas é Julho/Agosto, fora isso podem ser avistadas na mesma mas casualmente.

2º Em Novembro/Dezembro os ovos eclodem o que faz com que milhares de tartaruguinhas corram em direcção à praia mas também à aldeia atraídas pelas luzes artificiais, a maior parte morre no caminho mas os locais procuram salvar a maior parte levando-as até ao areal.

3º Elas fazem 2 buracos. Um “falso” mais pequeno em profundidade para enganar predadores e o “verdadeiro” bem afastado com cerca de 1,5m de profundidade.

4º As tartarugas que nascem aqui são as mesmas que voltam TODOS OS ANOS quando começam a reproduzir, o que acontece até cerca dos 45 anos de idade.

5º Da viagem das tartarugas verdes de “Omã” fazem parte por ex: Austrália, Malásia, Somália.

Feita toda esta explicação, avisam-nos de que não façamos barulho e lá vamos nós. Não foi preciso esperar muito. Ao longe é avistada uma em pleno processo de “escavação do buraco”. Confesso nunca ter imaginado ficar tão emocionado por ver um animal pôr ovos. Eu respeito muito os animais, mas aqui faço muitas vénias ao esforço deste ancião do planeta.

Não tenho material fotográfico decente para tirar fotos à noite, e não era permitido flash. Deixo-um pequeno vídeo e uma foto, dos quais peço desculpa pela qualidade.


Posso afirmar que tivemos muita sorte. Segundo o responsável o vento não era favorável, mas ele também dizia que nestas coisas nunca se sabe… e lá apareceu uma para satisfazer os nossos anseios. Obrigado natureza.

E assim foram as minhas 24 horas nesta linda cidade costeira Omanita. Não tive mais tempo para Sur, bem cedo ia até ao coração deste belo Sultanato conhecer: as montanhas, os castelos, os souks, os extensos palmeirais…Omã ainda tinha muito para me oferecer.

Quando vier a Omã guarde pelo menos 2 dias para Sur e arredores, creio que irá ficar feliz por seguir a minha dica.

Como chegar a Sur: De Ruwi(Muscat) partem autocarros às 7h/7.30h/14.30h. No sentido inverso 6h/7h/14.30h.

Onde dormir: Há várias opções de dormida em Sur. Pode consultar aqui: Booking.com

22 Comments

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    Claudia Bins

    15 Abril, 2017

    Linda cidade, linda viagem! Concordo que é apaixonante e também que as viagens não são somente os lugares. Normalmente as melhores lembranças de viagens que tenho são associadas às pessoas que lá conheci. Adorei vosso post!

    Claudia
    @as_passeadeiras

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      projecto100rota

      15 Abril, 2017

      Obrigado Claudia, ainda bem que gostou, boas viagens!!

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    Anderson Kaiser

    15 Abril, 2017

    Que lugar fantástico. Também prefiro cidades menores do que grandes centros ou grandes cidades. Todas tem seu encanto, com certeza, mas as pequenas acabam sendo ótimas surpresas.

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      projecto100rota

      16 Abril, 2017

      Sim é isso mesmo Anderson, obrigado!

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    Cristina Souza da Rosa

    15 Abril, 2017

    Adorei o post. Não conhecia este lugar e gostei muito de ler sobre ele. Que fotos lindas! Que azul mais lindo tem o céu e o mar. Chega a parecer um quadro. Adorei o post e as dicas.

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      projecto100rota

      16 Abril, 2017

      Obrigado Crisitina, ainda bem que adorou, fico feliz!

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    Andrea

    15 Abril, 2017

    Sou bem eclética, gosto de varios tipos de cantos e cidades. Adorei o seu relato. Dicas anotadas.

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      projecto100rota

      16 Abril, 2017

      Que bom andrea! Ainda bem que adorou, boas viagens!

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    Keul Fortes

    15 Abril, 2017

    Que cidade interessante. Adoro cidades nesse estilo! Não sabia nada sobre essa até esse post. Parabéns!

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      projecto100rota

      16 Abril, 2017

      Olá Keul, ainda bem que gostou, Boas viagens!

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    Marianne

    15 Abril, 2017

    Cidade linda e fotos incríveis! Adorei conhecer um pouquinho desse lugar através do seu post! Parabéns!

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      projecto100rota

      16 Abril, 2017

      Obrigado Marianne, que bom que adorou, boas viagens!

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    Fabia Fuzeti

    16 Abril, 2017

    Estou adorando acompanhar os posts de Omã e conhecer mais sobre este lugar que até então não tinha ouvido falar. E é muito bonito!

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      projecto100rota

      17 Abril, 2017

      É muito bonito mesmo Fabia, Obrigado!

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    angela sant anna

    17 Abril, 2017

    que lugar maravilhoso e cheio de história! pra gente do BR algumas coisas são muito absurdas pois nossa história é recente…acho incrivel como encontram os vestigios de culturas antigas como esse sistema de irrigação de 2500 ac!!!

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      projecto100rota

      17 Abril, 2017

      Compreendo Angela! Tem coisas mesmo antigas, Obrigado !

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    Esse texto é pura inspiração! Adoro quanto alguém me apresenta um lugar novo, ainda mais assim, tão cheio de detalhes interessantes. Também guardo preferência pelas cidades menores (se forem antiquíssimas, mais amor ainda), então mergulhei nesse texto, em suas experiências… Obrigada! 🙂

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      projecto100rota

      17 Abril, 2017

      Que bom Analuiza, fico muito feliz em saber que gostou! Obrigado! Boas viagens!

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    Katarina Holanda

    17 Abril, 2017

    Que lugar incrível!! Amo cidades nesse estilo e cheias de história. Suas fotos são lindas demais <3

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      projecto100rota

      17 Abril, 2017

      Que bom que gostou Katarina, fico muito contente, obrigado e boas viagens!

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    Filipe Morato Gomes

    16 Outubro, 2017

    Amanhã parto para Omã e Sur está nos meus planos. Depois conto como foi. Obrigado pela partilha. Abraço.

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      projecto100rota

      16 Outubro, 2017

      Aguardo ! Se precisares de algo diz. Abraço.

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