Médio Oriente

Roteiro de uma semana no Líbano | Viajar no Líbano

Há muito tempo que visitar um país não me causava tantas sensações divergentes como causou viajar pelo Líbano durante pouco mais de 1 semana.

Por mais que tivesse tentado ir despido de expectativas ou de não estar à espera de encontrar algo em específico, creio que é quase impossível não ir para um destino com uma determinada ideia pré-concebida, nem que não seja apenas por aquilo que nos passa à frente dos olhos nos media. 

E essa ideia que tinha era a de um país a tentar reconstruir-se e desta a vez a lutar, mas a lutar para acabar de vez com as tensões intramuros entre as diferentes confissões religiosas, que ao que parece atingem quase a vintena.

Na verdade é isso que está a acontecer, o país está a tentar renascer das cinzas, mas para mim a surpresa foi no ponto em que está AINDA esse fervilhar religioso e como isso influi no poder político aliás, é impossível dissociar um do outro, e principalmente entre cristãos, muçulmanos sunitas e xiitas a coisa é difícil gerir.

Fez-me lembrar muitas vezes o sistema de governo que “reina” na Bósnia-Herzegovina. Surpreendeu-me também a quantidade de militares e checkpoints. Estão por todo o lado, dentro das cidades, nas saídas, e até nas vias rápidas.

Depois há a velha questão do vizinho do sul…Israel e do vizinho do lado a Síria.

Só para fechar o assunto, ainda no dia em que visitava tranquilamente a baixa da cidade de Beirute aviões israelitas sobrevoaram a seu bel-prazer os céus do espaço aéreo libanês.

Vi o Líbano em algumas áreas muito mais caótico do que esperava, seja nos transportes, nas ruas, nas construções. Vi um Líbano mais pobre do que esperava, nomeadamente fora da capital, Beirute.

Vi um Líbano de bom vinho, bom azeite, boa comida. Vi um Líbano de montanhas e mar, vi o Líbano das protentosas ruínas de Balbeek.

Vi um Líbano como se fosse o lugar que tudo absorve do que é bom e mau no Médio Oriente. Como se fosse o lugar por onde desaguam todos os rios de problemas, tensões e virtudes dessa complicada região do globo.

VIAJAR NO LÍBANO: ROTEIRO DE UMA SEMANA

DIA 1 e 2: BEIRUTE

Downtown de Beirut, no céu -mais tarde vim a descobrir- vestigios da passagem da aviação israelita

Muito do que senti no Líbano adveio da minha estadia em Beirute. Ainda que não a tenha visitado ao meu ritmo, deu para ficar com uma ideia desta por vezes intensa e pesada cidade do Médio Oriente. Foram muitos anos de guerra civil que a destruíram quase por completo. Foi duro, muito duro. Chegou a existir uma espécie de “linha vermelha” imaginária que separava um bairro muçulmano xiita e outro cristão e basicamente o objectivo era matar e destruir tudo o que fosse possível do outro lado.

Hoje, apesar de todo este horror, e depois de a “malta” perceber que é mais fixe se o pessoal não se andar a matar mutuamente, Beirute está a reerguer-se a uma velocidade incrível e além de ser uma cidade segura, tem uma vivacidade e multiculturalidade acima da média, transformando-a na mais liberal cidade do Médio Oriente, fora de Israel.

A cidade, é cheia de contrastes e por vezes parece algo surreal, tão depressa vemos uma galeria de arte, cafés ou restaurantes de muito bom aspecto, como algo completamente destruído, cheio de fios de electricidade e a cair de podre.

A cidade está dividida em vários bairros, entre eles os mais conhecidos são: O jovem e estudantil bairro de Hamra -onde fiquei alojado, o hipster  bairro de Gemmayzeh que não consegui visitar, o muito interessante bairro arménio, Bourj Hammoud, outros bairros cristãos, antigos campos de refugiados Palestinianos- e agora também sírios– como o Shatila e bairros controlados pelo Hezbollah como o distrito de Bourj al-Barajneh.

Não posso esquecer a quase completamente renovada Downtown, onde se situa a grande mesquita Mhohamed Al-Ameen, a catedral maronita de São Jorge e um vasto complexo arqueológico da antiga Beirute a ser escavado e investigado. Está também rodeada de complexos de condomínios fechados de luxo, atraíndo todas aquelas marcas que encontramos em Nova Iorque, São Paulo ou Paris.

Catedral Maronita de são Jorge e Mesquita Mohamed Al-Ameen lado a lado em Beirut, a capital do Líbano

O governo libanês não procede à recolha do lixo do campo de refugiados de Shatila, sendo que os próprios habitantes têm de o queimar em plenas ruas junto às habitações, mas esse nem será o maior dos problemas.

Sem dúvida que a experiência mais intensa foi “passear” pelas ruas do bairro de Shatila. Era um sítio que queria muito ir e não me arrependo nada, em viagem faço questão de ver sempre os dois lados da moeda, quando os há. Muitos sorrisos, muitas perguntas de onde era e muitos “welcome”, mas aqui não há “welcome to…” e percebo porquê. Ninguém pertence ali, é apenas um “welcome, a nós” a um povo que vive com condições pouco aceitáveis.

Jogar matrecos com miúdos refugiados palestinianos e sírios durante uma boa meia hora foi um dos pontos altos da visita a Beirute, acreditam?

ALOJAMENTOS EM BEIRUTE

DIA 3 BEIRUTE-TRIPOLI (TRABLOUS)-BEIRUTE

Vendedor de bananas em Trípoli

Uma cidade que me agradou bastante. É verdade que a informação sobre Tripoli não abunda, mas também já vos disse que para esta viagem pesquisei pouco mais que… nada? Sabe bem por vezes chegar a um local e não saber nada sobre ele, não criar ideias pré concebidas e opiniões de outros viajantes que podem ser as mais respeitáveis do mundo, mas são opiniões. Ou seja, tipo opiniões como esta que estou por aqui a partilhar 😉

Muito diferente de Beirute, mais homogénea na sua população que é de maioria muçulmana. Também é maioria o número de Mercedes-Benz antigos, no seu parque automóvel.

É surpreendete o souk e toda a sua vida. É surpreendente saber que é a segunda cidade do mundo com o maior número de construções mamelucas depois do Cairo. É surpreendente a vista sobre a cidade e o mar lá ao fundo desde castelo de Saint Gilles mandado construir por Raymond de Sain Gilles, conde de Toulouse e um dos líderes da primeira cruzada!

É surpreendente a hospitalidade das pessoas na rua, é surpreendente o número de pastelarias de doces típicos!! Delicie-se com Trípoli. Ah e já me esquecia, é surpreendente o número de apitos no trânsito por segundo.

COMO CHEGUEI A TRÍPOLI: Autocarro desde Beirute apanhado na estção “Charles Helou”

ALOJAMENTOS EM TRÍPOLI

DIA 4- BEIRUTE-BALBEEK-BEIRUTE

Templo de Baco em Balbeek

Sem rodeios, digo-vos que visitar Balbeek era o meu foco nesta curta viagem ao Líbano. Estando no local apenas me arrependi foi de não ter ficado mais que um dia nesta cidade vizinha da Síria.

Este impressionante lugar  foi sede de culto dos fenícios e também conhecida como Heliópolis desde a época helénica. Durante o domínio romano a cidade conservou o seu carácter religioso, onde acorriam multidões de peregrinos para visitarem o admirável Templo de Júpiter, do qual hoje apenas restam as colunas.

Toda cidade está rodeada de montanhas mesmo estando já a uns respeitáveis 1100m de altitude, e o cenário acho que não pederia ter sido melhor, apenas diferente. As montanhas estavam carregadas de neve, o sol brilhava e as colossais construções de Baalbeek que representam das ruínas mais impressionantes do período do apogeu da arquitectura imperial romana estavam ali à minha frente. À minha mercê.

                        Porta de entrada do Templo de Baco

Até hoje nunca tinha ficado embasbacado a olhar para pedras, colunas, postes e afins espalhados pelo chão. Visitei Balbeek de tarde e permaneci até ao pôr do sol. Foi magnífico e sem dúvida quero voltar, com mais tempo e mais calor!

COMO CHEGUEI A BALBEEK: Mini Bus a partir de “Cola Station”

ALOJAMENTOS EM BALBEEK

DIA 5-BEIRUTE-BCHARRÉ

Eu à procura dos”Cedros de Deus”

Aqui está outro lugar nas montanhas do Líbano que quero concerteza voltar no verão ou primavera, sem tanta neve.

Apesar de ter noção que possívelmente veria pouco, pois as previsões apontavam para queda de neve nesta zona de alta montanha, a tentação de visitar: “o último antigo vestígio das antingas florestas do Líbano um dos raros lugares onde estas árvores míticas ainda crescem, outrora um dos materias de construção mais valiosos do mundo  e citadas mais de 100 vezes na Bíblia”– foi muito mais forte.

Bcharré é uma vila quase no topo da montanha que desemboca no Vale de Qadisha e foi aqui nesta região também que tiveram lugar dos primeiros assentamentos monastícos cristãos do mundo. Devido à neve e chuva não pude aproveitar ao máximo, voltarei pois um dia para caminhar por entre os “Cedros de Deus” e desbravar esse vale fabuloso mais parecido com um canyon, o Qadisha.

COMO CHEGUEI A BCHARRÉ: Mini Bus a partir de “Charles Helou station” em Beirute em direcção a Trípoli, a partir de Trípoli mudança para outro Mini-Bus para Bcharré.

ALOJAMENTOS EM BCHARRÉ

DIA 6-BCHARRÉ-BYBLOS (JBEIL)-BEIRUTE

Antigo porto de Byblos

Cheguei a Byblos vindo de Bcharré com mudança em Trípoli. Demorei muito mais do que estava à espera pois apanhei um corte da autoestrada o que obrigou o trânsito a ser desviado para a estrada nacional provocando uma extensa fila de dezenas de quilómetros.

À parte desse contratempo a cidade é pequena e numa tarde podemos perfeitamente ficar com uma ideia da importância desta cidade-Património UNESCO. Importa salientar que Byblos é um grande testemunho do início da grande civilização fenícia e é continuamente habitada desde o Neolítico.

A UNESCO diz-nos que a origem do alfabeto contemporâneo foi descoberto em Byblos numa inscrição no sarcófago de Ahiram-um antigo rei fenício, agora em exposição no Museu Nacional do Líbano.

É um dos lugares mais visitado por turistas no Líbano, tem por isso –ao contrário de Trípoli– um souk mais virado para o turismo e menos para os locais, foi aqui que paguei o café mais caro que bebi no Líbano, 2.50€.

Cardo romano “quase abandonado” no centro da agora moderna cidade de Byblos

COMO CHEGUEI A BYBLOS: Mini bus desde Tripoli que ia em direcção a Beirute e que para também em Byblosm sensivelmente a meio caminho.

ALOJAMENTOS EM BYBLOS

DIA 7 BEIRUTE-SÍDON (SAIDA)

Uma praça no centro histórico de Sidon

Neste dia à saída de Beirute tinha apenas a certeza de que ia agora para Sul, mas confesso, a indecisão ainda pairava na minha cabeça entre visitar a cidade Património UNESCO-Tiro,mais a Sul ou ficar por Sídon a meio caminho.

À primeira leitura acredito que pensem…fui a Tiro pois é uma cidade integrante na lista Património UNESCO por isso deve ter uma importância mais relevante. Errado.

Sídon, sabia ser uma cidade com um souk e centro histórico muito mais interessante e maior que o de Tiro mas vocês  já sabem do meu prazer em visitar mercados, e ver gente. Há que salientar todavia  que todo o centro histórico de Sídon está inscrito na “Tentative list” da UNESCO desde 1996.

                       Refugiado palestiniano pediu-me para tirar uma fotografia.

Neste dia em especial estava muito mais virado para mercados, pessoas, quiça um estado de espírito por ser o último dia da minha viagem ao Líbano.

Estava a precisar de contacto, interacção com as gentes, por isso abdiquei de ver Tiro, antiga capital fenícia e fundadora das colónias de Cartago e Cádiz, por exemplo, mas que conserva sobretudo ruínas da época romana.

São opções. Não está certo nem errado. Certo é que não me arrependi pois Sídon deu-me precisamente isso que estava à procura. Um souk absolutamente fantástico no meio de ruelas, túneis, casas em pedra, habitado por muitos locais e refugiados palestinianos e sírios. Fez-me lembrar muitas vezes o surpreendente souk de Nablus na Palestina.

Edifícios habitacionais no centro histórico

O impressionante foi descobrir também que Sídon foi também uma das mais importantes cidades fenícias e quiça a mais antiga, havendo referências que foi “cidade-mãe” de Tiro, perdendo depois influência a favor da sua “filha”. Foi famosa pelas suas manufacturas, artes, no fabrico dos famosos tecidos cor de púrpura, e sobretudo no fabrico de vidro, que era considerado o de melhor qualidade no mundo.

Numa vossa viagem ao Líbano não deixem de visitar o centro histórico de Saída (Sídon), mas como este é um roteiro pelo país e não um post específico sobre a cidade que mais me surpreendeu no Líbano, fica prometido assim que possível um post exclusivo sobre a cidade.

ALOJAMENTOS EM SÍDON

COMO CHEGUEI A SÍDON: Mini bus partilhado desde “Cola station” em Beirute

ALGUMAS NOTAS (QUE PODEM SER ÚTEIS) PARA VIAJANTES INDEPENDENTES AO LÍBANO:

Algumas cidades têm dois nomes, o “original”digamos assim, e  o árabe.  Por exemplo Byblos e Jbeil que na escrita nada tem a ver mas é a mesma cidade, por isso atenção e não se confundam!

Como o Líbano é um país pequeno, muitos viajantes acabam por decidir permanecer na capital libanesa e a partir daí sair para visitar os vários lugares. A vantagem é sobretudo a nível do alojamento pois há mais oferta e por conseguinte melhores preços. A desvantagem é que pode ser demasiado cansativo andar de um lado para o outro apesar das curtas distâncias. Hoje teria ficado –pelo menos– uma noite em Balbeek.

Relacionado com o ponto anterior. O transporte. É certo que as distâncias são curtas à excepção de Bcharré por exemplo. No entanto se não tiver viatura alugada e viajar em transportes públicos considere que vai SEMPRE demorar mais do que está à espera. Porquê ? Pelo trânsito em Beirute e porque os mini-bus param sempre que alguém pretenda embarcar e haja lugar.

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2 Comments

  • Reply

    Miguel A. Gonçalves

    7 Fevereiro, 2019

    TOOOOP!! Que saudades do Líbano me fizeste sentir agora!
    Tenho de lá voltar rapidamente, concordo plenamente com a descrição feita do país! Parece mesmo o caldeirão onde se cruzam todas as ideias do Médio Oriente! 😉

    • Reply

      projecto100rota

      8 Fevereiro, 2019

      Obrigado Miguel, também tenho de voltar, com mais tempo e melhor tempo hehehe

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