Africa

SUDÃO | Visitando aldeias Núbias e o Templo de Soleb

Casa típica da aldeia núbia de ARNATA 

Já tinha lido em dois outros blogues que falam maravilhas desta zona do mundo, mesmo assim e com alguma expectativa posso afirmar que até hoje ao presente dia em que escrevo estas linhas foi uma das minhas experiências de viagem mais autêntica.

QUEM SÃO OS NÚBIOS ?

Os núbios são um grupo étnico que vivem em parte do Sudão e do Egipto.

Com mais de 2000 anos de existência o povo núbio pertence a uma das civilizações mais antigas de África. Têm diferenças culturais marcantes, nomeadamente na música e língua, assim como uma história em comum com o Antigo Egipto, por vezes em paz, por vezes em guerra. Alguns faraós foram de origem núbia e dali chegaram a governar o Egipto durante o séc.VIII B.C.

Hoje em dia vivem maioritariamente ao longo do rio Nilo, ocupando uma área semelhante ao que é hoje o norte do Sudão e o sul do Egipto.

Dois habitantes núbios, duas gerações diferentes

 

A ALDEIA DE ABRI

Quem diria que a minha chegada a umas bombas de gasolina de aspecto  abandonado à borda da estrada “escondiam” uma pérola à beira do Nilo. Foi assim mesmo a cerca de 5km da aldeia que o meu transporte vindo de WADI HALFA me deixou.

A hospitalidade do povo sudanês continuava a marcar o compasso do meu dia. De onde és ? Porquê o Sudão? És casado? E claro o útil, “Para onde queres ir?” Tudo isto numa miscelânea de gestos e algumas palavras de inglês.

Lá nos entendemos, e assim, uma boa parte à boleia e outra a pé lá cheguei ao centro da vila.

ABRI, é uma típica aldeia sudanesa, ou melhor, eu diria uma vila de ruas em terra e areia, rodeadas de casas que mais se assemelham a cabanas ou barracas, mas muito comércio, muita gente e muitos burros de carga pois é um dos principais centros de comércio aqui da região.

Rua sudanesa

Como já estava resolvida a questão da dormida –deixo o contacto no fim do artigo– não hesitei um segundo quando percebi que mesmo em frente à “minha casa” em ABRI estava a “paragem” dos barcos e aproveitar imediatamente para fazer a minha primeira travessia do Nilo e ver o que havia na outra margem.

Pelo que percebi é mesmo em ABRI que a maioria das pessoas que vivem nas aldeias ao redor do Nilo se vêm abastecer, e devido a isso o movimento pendular de barcos até é constante.

Assim, numa curta viagem –mais uma vez a custo zero porque fiz logo um anfitrião enquanto este aguardava o transporte para casa- passei um fim de tarde especial na aldeia de ARNATA.

Aguardando o transporte para casa

Na verdade a aldeia de ARNATA, mesmo em frente a ABRI,  é uma pequena ilha –e há muitas assim ao longo do Nilo– umas maiores outras mais pequenas, umas com população, outras desertas. Uma das mais conhecidas e faladas pelos locais é a SAI ISLAND, que me garantiram ter ainda crocodilos.

Como todos me diziam para a visitar, e como por vezes gosto de ir contra a corrente quando estão todos a dizer-me o mesmo, fiquei me por esta pequena ilha e optei por visitar no dia a seguir o TEMPLO DE SOLEB.

Teria sido fantástico decerto seguir a sugestão. Mas não foi menos fantástico o meu dia. Depois de atravessar o Nilo que já de si foi um momento emocionante para mim, fui tomar chá a casa do meu anfitrião, passeei pela aldeia onde todos os locais, crianças, homens, mulheres me cumprimentavam e pediam foto!! Depois fui relaxar à beira do Nilo assistindo a um jogo de futebol interagindo sempre com os locais de forma calorosa.

A minha primeira travessia no Rio Nilo

A “rua principal” de ARNATA 

Mas para além dos locais me abordarem com simpatia e muita curiosidade, o que também me cativou foi o tipo de construção e decoração das casas desta aldeia. Todas tinham algo em comum, construídas da mesma forma e decoradas pelas mulheres dentro do mesmo tipo de gosto. Perfeita harmonia na minha opinião.

Entrada da casa do meu anfitrião em Arnata

Terminei a minha jornada já de volta em ABRI e dei por mim a contemplar o pôr do sol sobre o Nilo, as crianças brincando nas suas águas e os homens a tratar dos seus barcos.

O TEMPLO DE SOLEB e aldeia de WAWA

Descoberto no séc.XIX  foi um dos mais grandiosos templos da antiga núbia. Foi mandado construir por Amenófis III no Séc.XIV BC que também ergueu Luxor e era dedicado à sua própria imagem. O seu reinado caracterizou-se por um longo período de paz e até algum esplendor artístico.

O calor era muito intenso e infelizmente não estive aqui o tempo que desejava mas mesmo assim foi fabuloso visitar este lugar tão importante e sem turistas. Poder tocar aquelas pedras, aqueles relevos com milhares de anos. Foi surreal. Por outro lado, este isolamento e esta liberdade fizeram e fazem com que muitas pessoas sem consciência do que estão a fazer, fazem inscrições nas pedras. A maior parte até são do séc.XIX, presumo eu de exploradores e viajantes ingleses.

A aldeia de Wawa dista cerca de 50km  a sul de Abri, e é nas margens desta aldeia que pode apanhar o barco e visitar o Templo de Soleb que fica na margem esquerda. Neste dia arrisquei sair cedo de Abri e apanhar uma boleia, correu bem. Não foi imediato mas passados uns 20min estava na carrinha de um senhor que seguia para Khartoum, e me poderia deixar a caminho. Da estrada até às margens do Nilo caminhei uns 3km percorrendo a aldeia de Wawa onde mais uma vez fiquei fã das casas típicas sudanesas desta região.

Uma das minhas travessias no rio Nilo, aqui para ir visitar o Templo de Soleb

 

COMO CHEGAR A ABRI:

Se vier desde o EGIPTO pode apanhar mini-bus em WADI HALFA. Como em todo lado no Sudão saia bem cedo, no máximo às 8h da manhã esteja no local indicado para o transporte, no entanto o mesmo só partirá quando estiver praticamente cheio. O custo desde WADI HALFA foi de 80SDG para 180Km de distância e demorará cerca de 3h.

Do sul pode chegar directamente de DONGOLA ou fazer paragem em KERMA e mudar para ABRI.Como não o fiz não posso descrever com exactidão o processo mas foi-me garantido que era possível. O bilhete do mini-bus ABRI-DONGOLA rondará 140SDG.

 

COMO IR AO TEMPLO DE SOLEB:

– Quando as opções são poucas é fácil. O mais barato é à boleia. SOLEB fica cerca de 50km a sul de ABRI e WAWA é a aldeia mais perto da estrada e onde atravessará as águas do Nilo. Não há quaisquer infraestrutura para dormir em SOLEB pelo que, se não continuar para sul terá de voltar para ABRI.

Por outro lado contratar um táxi que o leve, espere por si e traga o de volta é mais confortável e não deverá pagar mais de 500SDG pela “festa”. A considerar.

Pela travessia do Nilo, visitar o templo e voltar, o barqueiro ficará satisfeito se lhe pagar 150SDG.

ONDE DORMIR: Mazgoub Guest House, sim há uma guest house em ABRI. E digo-vos honestamente se sacudissem o pó da cama era uma guest house de Top. No resto é uma casa tradicional com quartos com decoração bem ao estilo africano.

O dono, o Sr. Mazgoub fala bem inglês e é bastante prestável, no entanto penso que o preço poderia ser mais bem ajustado…para baixo. A noite custa 300SDG pessoa. Se for convidado por algum local considere também essa hipótese.                        Entrada da Mazgoub Guest house

Dica: Guarde o número de telefone do Sr. Mazgoub, poderá ser-lhe útil para a travessia do barco em WAWA para visitar o TEMPLO DE SOLEB . Como fala bem inglês também o poderá ajudar numa outra situação que tenha de resolver durante o resto da viagem 😉

Mazgoub guesthouse: Tel: 00249911220984/00249122886586

A saída de ABRI teve um pouco de nostalgia mas ao mesmo tempo saí de coração cheio. Que diabo, passar aqui 3 dias a ser acarinhado por todos, cumprimentado por todos faz-nos ficar a pensar. Espero voltar um dia e poder retribuir de alguma forma o carinho e a generosidade para com este gente que em média não ganha mais que 50€ por mês.

Até já ! Boas viagens!

 

 

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