Vista parcial do Trilho do sacrifício em Petra
Um povo que constrói algo como Petra merece a minha reverência, até o meu culto. Vocês sabem…É preciso nestas coisas ter cuidado com a gestão de expectativas, mas mesmo vendo milhares de fotos por dia nas redes sociais sobre esta nova maravilha do mundo, Petra fez-me prostrar a seus pés. Só para a escolha da foto acima, pedi que me ajudassem, e fiz um inquérito nas redes sociais tal era a minha indecisão.
Visitei Petra, e a Jordânia, a primeira vez inserido num pequeno grupo, num roteiro que incide numa das estradas mais míticas do mundo. Não é hábito viajar em grupo, mas confesso que foi uma experiência muito boa conhecer pessoas diferentes e poder partilhar as emoções da viagem com alguém, a repetir.
Mas sentir-me-ia muito mais feliz se vos conseguisse contaminar com o “bichinho de Petra”, e assim quem sabe poder vir a conhecer a “antiga capital dos Nabateus” na minha companhia. Vamos ?
Túmulo em “Pequena Petra” -posto avançado de Petra a 6km de distância
COMO SURGIU PETRA” ?
Localizada 250km a sul de Amã, a capital da Jordânia e a pouco mais de 100km a norte do Mar Vermelho. A cidade de Petra, é sem dúvida um dos lugares arqueológicos mais famosos do mundo. Imaginar um arqueólogo aqui deve ser como imaginar uma criança a brincar na Disney.
E ainda há material a descobrir, pois durante a segunda guerra do golfo e o decréscimo de turistas, os entendidos aproveitaram a calmaria para escavações, e mais túmulos e estruturas foram encontrados nesta cidade construída por um misterioso povo nómada, chamado de “Os Nabateus. Além da presença povo Nabateu -que vos falarei adiante- há vestígios da presença humana nesta região com mais de 6.ooo anos!
Local considerado PATRIMÓNIO UNESCO desde 1985 é hoje visitado por gente de todo o mundo. Com mais de 2000 anos, construída e literalmente escavada no coração das rochosas montanhas Shara, Petra foi uma cidade próspera desde o séc. I devido em parte à grande importância da sua localização nas rotas comerciais da época que ligavam a Mesopotâmia ao Egipto e Grécia antiga. Anexada posteriormente pelo império romano, continuou no caminho do sucesso até que no ano de 363 um forte sismo destruiu grande parte da cidade.
Os sucessivos terramotos e as mudanças operadas nas rotas comerciais em conjunto, terão levado aos poucos ao seu abandono, até permanecer adormecida e deserta já no séc.VII. Apenas os Beduínos locais por aqui permaneceram, como que guardiões do “tesouro” escondido debaixo das rochas e das areias do deserto.
Até que já no séc XIX, em 1812, um explorador suíço “ouvindo falar numa cidade perdida” por estas bandas, decidiu pôr mãos à obra, vestiu roupas árabes para passar despercebido convencendo os beduínos a indicarem-lhe o caminho das ruínas. A partir daqui foi o renascimento da “cidade perdida”.
Beduíno em Petra
MAS AFINAL, QUEM FORAM OS NABATEUS?
Sinto que há um pouco de misticismo à volta deste povo -e gosto disso- as fontes são um pouco nebulosas algo contrastantes em relação à sua história, o que partilho convosco é somente o que aprendi durante a visita e informação recolhida no museu e folhetos turísticos.
Os Nabateus seriam humildes agricultores nómadas árabes que vagueavam nos vastos desertos do norte da península Arábica. A dada altura por volta do séc.IV a.c, atraídos pelas condições do lugar, foram-se estabelecendo na área em redor de Petra mantendo todavia ainda o seu modo de vida nómada em busca de mais água e pasto para o gado.
Aos poucos, apercebendo-se da oportunidade de negócio resultante das rotas de comércio de incenso, mirra e especiarias vindas do sul em direcção ao ocidente, começaram a cobrar imposto às caravanas carregadas de valores que paravam em Petra, em troca os Nabateus ofereciam-lhe protecção numa extensa área e hospitalidade. Posto isto foram ganhando riqueza e começaram a ter controlo político e territorial sobre uma vasta área, indo desde o sul da Arábia até ao norte junto a Damasco na Síria.
Tornaram-se também peritos na gestão e aproveitamento da água que abundava em Musa –a vários quilómetros de distância– construindo uma complexa rede de canais para a fazer chegar ao centro da cidade, desviando outros que lhes causavam “transtorno” devido às enxurradas das montanhas. Et Voilá! De povo nómada e sem recursos, em poucas centenas de anos, tornaram-se numa sociedade altamente organizada a nível económico mas também cultural.
Agora o negócio é outro…
VISITANDO PETRA…
Passadas as formalidades, lá estávamos nós, a caminho de Petra. Estava muito excitado, lembrei-me dos momentos que antecediam a minha entrada num circo quando era criança…ou então, quando o meu pai me levava ao estádio do Benfica e o caminho que não teria mais de 200m parecia ser interminável…“nunca mais entramos, é tão longe…!”- desculpem a analogia mas… mais do que o futebol a mim impressionava-me e tinha noção prévia da grandeza do complexo. Aqui foi a mesma coisa.
Já com o nosso guia a desdobrar-se em explicações, estávamos no caminho que leva os visitantes “cidade perdida adentro”, O SIQ. Com pouco mais de 1km este desfiladeiro -largo ao início– depois vai afunilando como que nos empurrando aos poucos directamente para outra dimensão numa estreita garganta natural de pedra de tons ocres.
Durante o percurso, o guia de uma forma bastante clara e até cativante dá-nos explicações acerca de: Datas, reis, lendas, túneis e canais abertos para desvio da água, pavimento original Nabateu ou romano…pedras e imagens sagradas, assim como o significado de algumas gravuras na rocha.

É tudo muito interessante e oportuno para nos situarmos no tempo, mas a partir de determinado momento, tenho a convicção que muitos do grupo partilhavam o mesmo pensamento –“E o Tesouro, quando aparece?”. O SIQ, devido às suas características serpenteantes, alimenta esta dramática, mas triunfal entrada na cidade quando “chocamos” de caras com o monumento mais icónico de Petra. Estava para breve e estava mesmo ao virar da esquina. O guia experiente sabia-o. Desvia-nos a atenção no sentido contrário explicando-nos algo que não recordo. Fluentemente, indica-nos a outra direcção e…lá está. O majestoso “Al Khazna” ou o TESOURO.

Aqui tive uma das lições de viagem mais importantes. O cuidado a ter com as expectativas. Não tem que me desiludir nem surpreender, é uma obra de arte lindíssima. Ponto. É um dos monumentos mais fotografados do mundo, todos querem a foto perfeita, e eu também…Mas paro. Só quero contemplar. “Estou aqui”.
A partir daqui o guia deixou-nos e ficámos por nossa conta. Seguindo à direita do Tesouro, e caminhando mais um pouco encontramos:
- A RUA DAS FACHADAS– Vários túmulos seguidos cravados na rocha adjacente ao outro desfiladeiro.
- TEATRO ROMANO– Único no mundo totalmente escavado na pedra do sopé da montanha do “sacrifício” podia acomodar até 4000 espectadores.
Teatro romano visto do trilho Al-KHUBTHA
- OS TÚMULOS REAIS– Nome dado às 4 impressionantes fachadas encrostadas na montanha de frente para o vale.
- RUA DAS COLUNATAS– Rua originalmente criada pelos Nabateus foi mais tarde reformulada pelos romanos. Era uma das principais ruas de comércio da antiga Petra.
- GRANDE TEMPLO– Um dos maiores complexos arqueológicos da cidade. Estima-se que ocupe uma área de 7000 m2.
-
TRILHO DO ALTAR MOR DO SACRIFÍCIO 3KM– Confesso. Foi o que mais gostei de ver e fazer em Petra. Não obstante tê-lo feito descalço -só em meias- devido a um problema técnico com o calçado, foi uma descoberta maravilhosa, fazer este trilho. Até ao lugar de culto, no topo da montanha, as escadas e inclinação “empurram-nos” para baixo, mas chegando ao cume as vistas a 360º sobre a “antiga cidade perdida” a nossos pés, fazem esquecer todas as agruras. Depois, é sempre a descer, com curvas, túmulos misteriosos, cisternas, fontanários e esta perspectiva…
Garden triclinium, um dos monumentos do trilho do “sacrfício”- Interior do monumento da primeira foto, lá em cima!
- TRILHO DO MOSTEIRO ou “AD DEIR” 2,5km– Achei um dos mais difíceis. Não tanto pela inclinação, mas pelo número de escadas. São muitas, e não vos quero assustar. Para chegar a um dos maiores e mais conhecidos monumentos de Petra terá sempre a companhia de simpáticos vendedores beduínos de chá, recordações e quem sabe…convidado para se juntar a eles ao almoço…
O Mosteiro
- TRILHO AL-KHUBTHA 3,5km– Apelidá-mo-lo carinhosamente de “trilho da vista do TESOURO”. É o que nos faz subir perto de 600 escadas (dizem) e suar as estopinhas. Pessoalmente, gostei mais e agradeci ao meu companheiro de jornada o facto de me ter convencido a guardá-lo para o fim quando todos o fizeram ao início. O ideal será fazê-lo ao nascer do sol, porque a luz poderá incidir directamente na fachada, mas como o céu estava nublado não faria sentido. Foi a despedida, a suspensão final antes do adeus ao “Tesouro”e a Petra.
O Tesouro visto do Trilho AL-KHUBTHA
Para quem tem 2 dias estes 3 trilhos são os mais indicados. Há no entanto mais 5 à sua espera caso fique mais tempo em Petra.
Até já PETRA e boas viagens!!
SUGESTÃO DE VISITA A PETRA EM 2 DIAS:
Dica: Levar almoço, ou snack para poder comer algo a meio do dia. Caso contrário poderá almoçar em Petra junto do Grande Templo.
Dia 1
Manhã
Fazer o percurso do SIQ até ao TESOURO. Visitar de seguida a RUA DAS FACHADAS, TÚMULOS REAIS e o TEATRO ROMANO.
ALMOÇAR
Tarde
Fazer o percurso do ALTAR MOR DO SACRIFÍCIO se possível junto ao final da tarde para aproveitar a luz do crepúsculo.
Dia 2
Manhã
Antes de mais tome um bom pequeno almoço!! Se o dia estiver limpo e depois de fazer de novo todo o percurso do SIQ, opte pelo trilho AL-KHUBTHA de onde poderá contemplar o “Tesouro” do alto da montanha mesmo em frente.
ALMOÇAR
Tarde
Percurso do MOSTEIRO. Não se apresse, são quase 850 degraus, mas tem tempo, para desviar as atenções do cansaço vá interagindo com os beduínos ou outros caminhantes.
NOTA: Depois de tudo isto, TERÁ SEMPRE DE FAZER O CAMINHO DE VOLTA PELO SIQ até à saída/entrada do complexo.
NÃO SE ESQUEÇA DE QUANDO VISITAR PETRA:
- Calçado confortável
- Lanche/água
- Não ir demasiado carregado na mochila
- Se estiver calor, chapéu, óculos de sol e protetor solar!
- Pedir um mapa no Centro de visitantes à entrada, há em várias línguas e são de fácil compreensão. O que usei tem todos os trilhos desenhados.
- Cuidado com o horário, não se descuide e deixe anoitecer, não é permitido pernoitar na cidade, só os beduínos o podem fazer…
ONDE FICAR ALOJADO ?
Tal como referi em cima a cidade base de visita é WADI MUSA. Poderá escolher um dos alojamentos no link abaixo:
ALOJAMENTOS EM WADI MUSA PETRA
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rui batista
4 Março, 2018Petra é, realmente, um lugar singular. E que bem merece delongada visita. De minha parte, explorei-a de dia e na magia da noite, com um caminho feito de velas até ao monumento principal. Aqui, um belo concerto de música árabe e chazinho. Inesquecível. Parabéns pelo post, como sempre, muito completo. E, ao que vejo, o ‘inquérito’ nas redes sociais foi o acertado, pois a foto é mesmo muito boa 🙂 Quando andares pelo Porto, falaremos de Petra e do… Sudão :)))
projecto100rota
12 Março, 2018Incha’allah !! O Sudão está quase…na próxima talvez vá a Petra à noite também. Abraço!!
Marcia Picorallo
5 Março, 2018Post completo, vai ajudar muita gente que tem planos de visitar este lugar belíssimo, e como você mesmo disse, de emudecer e paralisar. Acho que é o mesmo quando visitamos Machu Picchu, não? Adoraria ir um dia, sonhando aqui. Ah, que foto mais espetacular esta da abertura – sem desmerecer as demais. Obrigada por compartilhar.
projecto100rota
12 Março, 2018Obrigado eu pelo comentário!
Wandering life - Catarina Leonardo
6 Março, 2018Este é um lugar que ainda não conheço e quero bastante ir conhecer. Adoro toda a beleza e história inerentes a este local. As tuas fotos estão sublimes, especialmente a primeira…. Imagino a sensação de ver o tesouro por entre as 2 pedras.
projecto100rota
12 Março, 2018Obrigado Catarina acho que tu irias adorar sem dúvida alguma 😉
sabrina kelly
6 Março, 2018Eu não consigo nem se quer prestar atenção em outra coisa de tão lindo que é esse lugar. Definitivamente é de ficar na vontade de ir. Simplesmente maravilhoso e encantador.
Obrigada por esse post tão bem feito. 🙂
projecto100rota
12 Março, 2018Obrigado Sabrina, boas viagens!
Analuiza
6 Março, 2018Sonho em visitar este lugar de história tão antiga, interessante quanto por estas paisagens incomuns e impressionantes. Acho que para saber o que é, só mesmo estando inserido neste contexto! Tomara um dia eu vá. Por ora, caminhei pelas palavras desse texto uma e duas vezes…
projecto100rota
12 Março, 2018Acho que vai adorar Analuiza, é um lugar mágico, boas viagens!!
Ana
6 Março, 2018Estou desejosa de conhecer Petra! Tenho uma grande amiga que escavou aí e por pouco não acabei também a fazê-lo (infelizmente coincidia, na altura, com época de exames na faculdade). Ela falava-me precisamente da questão da gestão/transporte da água, que pelos vistos é genial. É de facto impressionante e as tuas fotografias e relato são prova disso. Registo esta tua partilha para quando ai for (que será em breve, espero).
projecto100rota
12 Março, 2018Obrigado Ana! Espero também que vás breve! Como arqueóloga vais te passar hahaha
Viviane Carneiro
8 Março, 2018Nossa, que lugar mais incrível e que fotos maravilhosas! Deve ser uma experiência maravilhosa conhecer esse lugar.
projecto100rota
12 Março, 2018É sim senhor, uma experiência !!Obrigado pelo comentário!
angela sant anna
10 Março, 2018quero muito conhecer essa região e sem agência não tem como né! achei bem compacto o tour e aparentemente parece completo! pegaram dias lindos, que céu azul é esse! <3
projecto100rota
12 Março, 2018Dá para ir sem agência angela, dessa vez é que eu quis companhia hahahaha
sónia justo
10 Março, 2018Que lugar lindo e que fotografias maravilhosas! Conheço várias pessoas que já visitaram Petra e todas elas dizem que é uma experiência inigualável. 🙂
projecto100rota
12 Março, 2018É mesmo Sónia, tens de ir !
Edson Amorina Jr
12 Março, 2018Eu tenho muita vontade de conhecer esta região, falei até com a esposa de pensarmos num roteiro por lá. Adorei ler mais sobre a história, ficou muito bem detalhado e claro.
Daniel Mota
4 Fevereiro, 2019Tive o prazer de visitar no ano passado e adorei. As fotos não lhe fazem jus. E o povo é muito afável. Recomendo.