Jordânia, Médio Oriente

Visitar o WADI RUM | Enfeitiçado pelo deserto | Jordânia

Escrever sobre o deserto de Wadi Rum…. Não é tarefa fácil para mim. Fico algo intimidado. Tudo porque fui completamente enfeitiçado por este deserto que se estende ao longo de mais de 700km2 pelas “arábias”.  Já tive o privilégio de estar noutros, como em Omã ou em Marrocos, aqui senti uma energia fora do vulgar.

Pode ter sido somente a morfologia do lugar, podem ter sido simplesmente as circunstâncias temporais ou existenciais pessoais, com uma ajudinha dramática do mau tempo que nos recebeu à chegada e o contraste da bonança que se deu a seguir.

Fiquei uma “fome” enorme de vos fazer entender o que senti ao estar ali, e num primeiro impulso era isso que me movia, contudo a minha humildade como blogueiro e viajante neste nosso planeta cheio de coisas maravilhosas, diz-me que isso será tarefa hercúlea e o melhor será optar pela razão em prol do coração.

Se ainda assim conseguir despontar em vós  um pequenino desejo de um dia pisar as areias do Wadi Rum, fico muito feliz. 

Visitei o Wadi Rum numa viagem épica pela Jordânia inserido desta vez num pequeno grupo de viajantes da agência portuguesa Landescape, percorrendo a mítica estrada dos reis ou king’s Way.

O dia anterior tinha sido repleto de coisas boas na estadia em Petra. Difícil haver lugar que nos pudesse encher a alma depois de visitar a antiga cidade perdida dos Nabateus. Wadi Rum na minha opinião cumpriu o propósito, e sem falhas.

A porta de entrada no deserto é a aldeia de Rum. E parece-se mesmo como um portal para outra dimensão. Depois de sair da área da aldeia o panorama abre-se e à nossa frente temos uma vastidão de areias avermelhadas, e grandiosas formações rochosas –desta vez algumas escondidas na sombra das nuvens– à nossa espera.

Juro-vos que à medida que o jipe avançava pelas areias do deserto veio-me à cabeça a banda sonora do filme “Lawrence of Arabia”

Um filme que em grande parte aqui foi rodado e que fala sobre um jovem oficial do exército inglês que lutou ao lado dos árabes para expulsar os Otomanos da região.

Lawrence foi também mordido pelo “bicho” do deserto e  tornou-se um profundo admirador do lugar e do modo de vida do povo beduíno. Entregou-se de tal forma às areias e imiscui-se tanto que se terá apaixonado também por “alguém mais”. Diz-se.

São muitas as referências a Lawrence num tour pelo Wadi Rum, locais de filmagem, locais onde o actor terá bebido água, tomado banho, locais referência do livro “Sete pilares da Sabedoria” que escreveu…enfim uma panóplia de situações agora exploradas –e bem-  pelo turismo.

Como o tempo estava bem severo no que diz respeito a frio e…chuva, rapidamente chegámos ao acampamento. Matlouk o nosso guia beduíno  num ápice trata de acender a fogueira, ou melhor 3 fogueiras! Uma para nos aquecermos dentro da tenda comum, outra para fazer o tradicional jantar enterrado na areia e outra para o chá.

Para nossa satisfação o dia começou gradualmente a melhorar e ainda tínhamos um par de horas de sol pela frente. Com perfeita noção de que o grupo estaria algo desolado por estar no deserto com o tempo assim, Matlouk convoca-nos imediatamente para “embarcar” nos jipes e ir dar uma volta pelo Wadi Rum. Perfeito, exceptuando o facto de o nosso amigo beduíno insistir em ouvir “xutos&pontapés” pelo caminho…

A “Um forth bridge” em Wadi Rum

Uma das coisas que distingue este deserto são as suas formações rochosas –que imagine-se-  podem atingir os 1900m de altura! Mas calma, o wadi rum está situado a 900m, o que significa que a dimensão das mesmas é assim relativizada.

Além de atrair muitos fãs de montanhismo e escalada, algumas atracções do Wadi Rum passam também pela exploração da forma curiosa das formações rochosas, as mais visitadas são:

– Khazali, Burrah Canyon e Siq um Tawaqi : desfiladeiros nas montanhas que se transformam num espectáculo de côr ao nascer e pôr do sol, com algumas inscrições antigas do tempo do povo nabateu (outras do século XXI) nas rochas, uma das quais contém uma escultura da cabeça de T.E Lawrence.

– Lawrence Spring: Local onde supostamente T.E Lawrence terá tomado banho durante a revolta árabe. Fica logo a seguir à entrada.

Pontes de pedra: Há pelo menos 3 mais conhecidas. A ponte pequena, a grande ponte ou burdah rock bridge e a Um forth rock bridge na foto acima.

Vista e fronteira com a Arábia Saudita: Pode parecer estranho, mas saber que estamos com um pé no “papão” Arábia Saudita deixa-nos um certo orgulho quando contamos aos amigos, não?

            Mirando a Arábia Saudita, metade do vale já são terras sauditas. FOTO de Luísa Marques

Tudo isto foi magnífico, mas para mim, e julgo que para a maior parte dos meus companheiros de viagem o ponto alto foi visitar a família de Matlouk que efectivamente vive no local como beduínos que são.

Camelos, cabras, galinhas. São estes animais o principal sustento desta família do deserto. Todavia para sobreviverem estes animais precisam de comer, e como estamos no deserto comida não abunda. “Esta chuva é uma bênção para os animais de meu pai“- não se cansa de repetir carinhosamente Matlouk.

O pai de Matlouk além de confessar que fuma em média 80 cigarros por dia, noto que tem um sentido de humor apurado. As mulheres da família estão numa tenda à parte. Bebemos muito chá, pouco café, apenas eu e outro companheiro de viagem apreciamos o café árabe, bem ácido devido à leve torrefacção dos grãos e com um toque fresco das sementes de cardamomo.

O pai de Matlouk

Deixou-me muito feliz saber que o povo beduíno –que são de facto quem ainda mais ordena por estas bandas- vivem mesmo aqui e não é só para turista ver. E confesso que isso era algo de que tinha alguma curiosidade em perceber, obviamente fazem proveito do turismo, mas faria sentido não o fazer ? Pareceu-me ser na justa medida e creio que assim vá continuar.

Ora alaranjado, ora mais branco, ora muita areia, ora mais rocha, ora alguns arbustos a estorvarem o caminho, ora beduínos a caminharem junto com os seus camelos sabe-se lá para onde, ora jipes ao longe em velocidades loucas e grandes gincanas para não se atolarem na areia…ora o silêncio, esse está sempre presente, e agradeço.

Faltou a noite estrelada, faltou o calor, faltou o pôr do sol da praxe…em contrapartida tivemos mais calor humano, ouvimos mais, falámos mais, sentimos mais. É a liberdade de ter uma tela em branco e sermos o que quisermos.

Grupo Landescape a aquecer junto de Matlouk

Senti-me agradecido poder partilhar estes momentos com um grupo. Devido a várias circunstâncias tenho viajado maior parte das vezes sozinho. É bom, não o desminto. Mas por vezes sinto necessidade de mandar cá para fora alguma emoção e sentimento, nem que seja um olhar ou um simples comentário, no fundo, alguém que me ature… Tive o melhor dos dois mundos. Gostei. 

Saio apenas com um pensamento na cabeça. Quero voltar, voltar e ficar, voltar com o pequenote e deixá-lo correr enfeitiçado pelas areias do deserto. 

Faça as suas reservas através das parcerias do nosso blogue, NOS LINKS INDICADOS, VOCÊ NÃO PAGA MAIS, e nós ganhamos uma pequena comissão. Assim conseguiremos manter e até melhorar ainda mais o nosso blog ! OBRIGADO !

ALOJAMENTOS EM WADI RUM

 

Deixe um comentário