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Visitar a Serra de Montemuro | Roteiro de 4 dias pelas Montanhas mágicas | Portugal

Oito anos depois voltámos. Finalmente. Há muito que este território que não se espera, que nos surpreende a cada canto, com vistas que fazem suster a respiração, nos faz sentir pequenos perante a sua imensidão, mas também que nos desarma com a sua simplicidade e genuinidade chamava por nós.

A Serra de Montemuro em conjunto com as serras da Arada, Freita e Arestal integram um vasto território apelidado recentemente de Montanhas Mágicas. Uma ideia perspicaz e inteligente de unir 7 municípios e 80 freguesias em prol da divulgação deste património natural e cultural tão singular de Portugal.

Nós em particular conhecemos melhor a Serra de Montemuro, que “funciona” na região como uma posição de barreira entre o norte e o centro, o litoral e o interior. Como um muro, o Monte-Muro. E foi também no âmbito da iniciativa #euficoemportugal da Associação de Bloggers de Viagem Portugueses que nos fizemos à estrada até ao Centro de Portugal.

Delineámos assim um roteiro de 4 dias englobando parte dos concelhos de Castro Daire, Cinfães e ainda um pouquinho de Resende que queremos partilhar convosco; então cá vai:

DIA 1 Castro Daire (Centro de Interpretação do Montemuro, Museu de Castro Daire) Trilho da Cascata da Pombeira | Mata do Bugalhão

Tamancos expostos no Museu municipal de Castro Daire
Mata do bugalhão

Antes de chegarmos a nossa ideia era almoçar em Castro Daire e aí visitar o Centro de Interpretação de Montemuro.

Gratuitamente ficámos com uma melhor percepção da importância geográfica e cultural desta região. Um espaço bem conseguido na nossa opinião, que explica de uma forma clara e concisa o papel fundamental dos seus rios, e a simbiose entre as gentes e a montanha. Além disto, foi também importante porque tivemos acesso a vários panfletos informativos dos pontos de interesse e opções de caminhada.

Dali e já almoçados fomos directos ao encontro da Cascata da Pombeira. Não tivemos tempo para percorrer todo o Trilho circular de pequena rota com cerca de 10km de extensão, mas para quem por algum motivo não puder fazer o percurso todo pode optar por uma caminhada desde uma pequena barragem que fica entre a aldeia de Codeçais e Lamelas, seguindo o percurso do rio. Não te esqueças de visitar o miradouro da Cascata que fica na aldeia de Lamelas!

Antes de sairmos em direcção à aldeia de Campo Benfeito fomos passear um pouco pela sombra da Mata do Bugalhão, que conserva ainda uma vasta área de floresta autóctone.

DIA 2 Campo Benfeito | Trilho dos Carvalhos | Teatro Regional da Serra de Montemuro

A aldeia de Campo Benfeito

A manhã acordou-nos lentamente, ao som de chocalhos, pássaros e de uma levada para rega que passava junto do alojamento. O cenário era perfeito, tal como tinha imaginado para estes dias de retiro.

Estávamos na aldeia de Campo Benfeito. Apesar de já ter ouvido falar deste lugar, só calcorreando as ruelas desta pequena aldeia com 50 habitantes permanentes é que se entende o ambiente, a paz e uma mística peculiares. O entorno é incrível, a aldeia está situada a cerca de 1000 metros de altitude, implantada numa encosta virada para o planalto do Balsemão.

Logo à chegada somos recebidos de braços abertos com um local que nos explica com um entusiasmo matinal surpreendente que a casa ao lado do pelourinho era a prisão e uma outra de aspecto tosco e mais pequena era o tribunal!

Dali seguimos para as capuchinhas, onde pudemos conversar com as mulheres que juntas criaram a Cooperativa das Capuchinhas, e levam avante os ofícios tradicionais na arte de trabalhar à mão o linho, a lã e o burel, não deixando que esta arte desapareça diluída nas coisas feitas à pressa dos tempos modernos.

O pelourinho de Campo Benfeito, classificado como imóvel de interesse público em 1993
As Capuchinhas

Como o calor começava a apertar decidimos pôr-nos a caminho para percorrer o trilho dos Carvalhos, ou pelo menos parte dele. O Trilho dos Carvalhos é um percurso circular com uma extensão de 7,5km, com início no largo da capela de N.ª Sr.ª do Refúgio, no lugar de Fojo. Como tínhamos quase a certeza de que o não faríamos todo, decidimos começa-lo a partir da aldeia percorrendo o planalto do rio Balsemão e se possível terminar na aldeia de Cotelo, e quiçá depois embarcar nalgum tractor que por ali andasse.

De Inverno este trajecto encontra-se alagado em água, ou não fosse grande parte desta uma das mais importantes áreas de turfeira em Portugal, pelo que se torna difícil caminhar, mas na primavera e verão a vida explode e pudemos ver rãs, borboletas, vacas de raça arouquesa e alguns rastejantes. Nesta parte do percurso que vai desde a aldeia de Campo Benfeito até junto da aldeia de Cotelo, existem painéis explicativos da fauna e flora existentes, o que torna tudo ainda mais apelativo.

A mancha de carvalhos situa-se sobretudo em volta da aldeia de Codeçal e Gosende.

Trilho dos Carvalhos

Não sairíamos daqui sem que visitássemos o Teatro Regional da Serra de Montemuro . O que dizer de um lugar com 50 habitantes com uma estrutura profissional de teatro ? Em 1990 um grupo de jovens decide investir a sua energia e o seu inconformismo criando um projecto que lhes ajudasse a fixarem-se na sua terra. Daí até aos dias de hoje, na pequena aldeia de Campo Benfeito encravada na Serra, tornaram-se numa referência nacional e internacional na criação, e difusão da arte.

A obra nasce de um conceito de criação colectiva entre actores, encenadores, músicos e outros, os textos são originais contemporâneos, inspirando-se na actualidade e com forte identidade nas vivências rurais, mitos e lendas.

Instalações do Teatro Regional da Serra de Montemuro

No fim da nossa estadia vem me à memória uma frase que um habitante me disse à chegada aquando da minha pergunta de quantos habitariam ainda na aldeia: “Somos só 50, mas se não fosse o Teatro e as capuchinhas nem 5 seríamos”.

DIA 3 Gralheira | Ponte da Panchorra | aldeia Vale de Papas | Vale do Bestança (Caminhada do Prado)

Ponte da Panchorra

O 3º e 4º dia seriam dedicados ao outro lado da Serra do Montemuro, o lado Oeste, que conserva na nossa opinião um dos vales mais bonitos de Portugal, e que merece o nosso destaque, o Vale do Rio Bestança.

Todavia, antes de sairmos do planalto do Montemuro, no concelho de Castro Daire e iniciarmos a descida até ao vale encantado já no concelho de Cinfães, descobrimos a Ponte da Panchorra, e que descoberta!

Unindo as margens do rio Cabrum, é um dos mais belos exemplos de arquitectura vernacular em Portugal, com as primeiras referências a remontarem ao ano de 1258! Está inserida na rede da Rota do Românico e podes visitá-la a escassos quilómetros da aldeia da Gralheira, se trouxeres uma tenda, terás o cenário perfeito para uns dias de conexão à natureza!

Bem perto da Ponte da Panchorra, na vertente norte da serra, passear pelas ruelas da ancestral aldeia de Vale de Papas é obrigatório. Está classificada como uma das belas aldeias de Portugal em parte por conservou muito bem a sua arquitectura popular. É possível ainda observar algumas construções com telhados em colmo.

Capela da aldeia de Vale de Papas

O Vale do Bestança

A nossa relação com o bucólico Vale do Bestança remonta a 2010 quando por mero acaso o descobrimos, numa escapadinha de fim de semana. E por isso achamos que merece aqui um pequeno destaque.

No Rio Bestança

O contraste deste lugar com o lado oposto da serra é evidente.

De um lado os planaltos, as grandes cearas e trufeiras, pouco arvoredo, muita rocha, as aldeias bem concentradas e afastadas umas das outras, uma paisagem mais agreste, o bruto, mas singelo. Do outro um imenso verde, recheado de castanheiros, carvalhos, agricultura em patamares, casas senhoriais, cerejeiras, e alguns vinhedos, guardados pelas grandiosas e… inclinadas montanhas do Montemuro. Ao fundo o imenso Douro à espreita. Quiçá uma certa opulência. É precisamente o contraste entre estes dois lugares tão próximos que alimentam o fascínio mútuo.

Um dos heróis desta “festa” é o Rio que lhe dá o nome, é ele um dos principais culpados desta beleza ainda desconhecida por muitos. É ele que atravessa, e rasga de forma rude e bruta este vale, daí o nome Bestança= Besta. Nasce bem lá no alto junto das Portas de Montemuro, e morre, na margem esquerda do rio Douro, apenas 13,5 km depois. É o que se chama viver pouco mas com intensidade, e ainda tem tempo de poder ser considerado um dos rios mais limpos da Europa.

Se não conhecem vão o quanto antes, é um lugar como já não existem muitos em Portugal e a riqueza da sua biodiversidade valeu-lhe a classificação de sítio de interesse de Rede Natura 2000.

Para além de poderes simplesmente contemplar as vistas, o que recomendamos é pelo menos fazer a caminhada PR1 – Caminho do Prado se vieres com pouco tempo.

É um percurso circular com cerca de 7km que passa pelas localidades de Covelas, Valverde e Vila de Muros.

Este é um percurso circular de nível fácil/moderado que se desenvolve no Vale do Bestança ao longo das margens do rio e que passa pelas localidades de Vila de Muros, Covelas e Vale Verde e que te dá uma ideia do que a região tem para te oferecer.

Ponte de Covelas

Se não estiverem muito virados para a caminhada completa podem optar por fazer “apenas” a parte do percurso que vos leva atá à ponte, o ponto de partida pode ser junto da igreja da aldeia de Covelas.

Chamam-lhe a “ponte romana de Covelas”, porventura até poderá ter existido aqui uma travessia em madeira nesse tempo, mas a que está ali edificada é um monumento do século XVIII segundo uma inscrição presente. Mais antiga ou menos antiga, valeram a pena todos os passos para alcançar.

Inscrião na Ponte de Covelas que nos remete para a construção do monumento em 1762

DIA 4 Ponte de Soutelo ( Fragas da Penavilheira) | Bustelo da Lage | Portas de Montemuro

Ponte de Soutelo

Descobrimos que perto da aldeia de Soutelo existiriam umas quedas de água de elevado interesse natural e paisagístico, a verdade é que não as conseguimos encontrar. Até à ponte o percurso encontra-se bem sinalizado mas a partir dali ficámos na dúvida e não quisemos arriscar, sobretudo porque o acesso poderia ser difícil e tínhamos a criança connosco. Fica contudo a dica para que se quiserem visitar as cascatas/fragas se informem bem como as alcançar, ou procurem por um guia local.

Dali subimos até à aldeia do Bustelo da Lage onde fizemos um pic-nic junta da famosa eira comunitária feita formada por uma única lage de granito. Ainda hoje, os habitantes a utilizam mantendo-se fiéis às suas tradições agrícolas, como a desfolhada ou a secagem dos cereais, nós aproveitámo-la para o nosso almoço, ao som dos chocalhos de umas “arouquesas” que por ali deambulavam.

Depois do pic-nic tínhamos de nos fazer à estrada para regressar a casa. Todavia não queríamos partir sem nos despedirmo-nos de um dos pontos mais altos da serra, as Portas de Montemuro. Aqui no limite dos concelhos de Castro Daire e Cinfães, a mais de 1200 metros de altitude, além da imensidão da vista que pode alcançar de um lado o Gerês, o Marão, o Douro e do lado sul a Estrela, o Açor e o Caramulo, podemos também encontrar vestígios de um povoado fortificado da Idade do Ferro.

Foi o lugar perfeito para nos despedirmos do Montemuro. A nossa paixão por este cantinho de Portugal cresceu com esta visita, e acreditamos que regressaremos muito em breve, da primeira serviu apenas para saber o caminho, a segunda para abrir o apetite e a terceira há de ser para conhecer mais a fundo e quem sabe descobrir os segredos que o Montemuro ainda terá para nos oferecer!

Obrigado por viajares connosco, esperamos que tenhas gostado deste roteiro nas montanhas mágicas e possas visitar a serra de Montemuro o mais breve possível!

Nas Portas de Montemuro em 2010

Este artigo contou com a colaboração do Turismo Centro de Portugal

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