Europa

Viagem Sul de Itália |Visitar Matera, a cidade impossível

Foi cumprido mais um sonho. Visitar Matera.

A chegada à cidade ocorreu após uma longa mas bonita viagem pela Costa Amalfitana desde Pompeia, acompanhando a Carmen Lorusso, italiana da Puglia, líder 100 Rota da nossa viagem ao Sul de Itália.

Muitas vezes veio à memória o nosso Alentejo aquando da nossa imersão pela Puglia e Basilicata adentro. As diferenças estão na magnitude, nos sobreiros que não os vi e nos campos de tomate.

Dizem alguns italianos, mesmo os do norte, que “não há lugar como este”. Um lugar bruto. Um lugar vazio, parecendo abandonado, com lugarejos praticamente fantasmas no alto da montanha. Mas um lugar que de repente numa refeição, num café ou numa conversa ocasional nos enche a alma e o coração ao perceber quem é esta gente e do que é esta gente feita.

É o interior, e o interior está sempre longe de tudo, parece interminável a distância entre um lado da costa e o outra, e ainda mais a sul na sola da bota. É por isso que na Itália não há lugar como este.

Matera, vista do lado oposto à cidade

Pois é no meio deste mundo que está Matera.

A História de Matera é tão peculiar como antiga. Este lugar até meados dos anos cinquenta do século passado, era o mais pobre, degradado e miserável lugar que a sociedade italiana tinha de encarar.

Com o crescer do nacionalismo, o Estado interveio e Mussolini ordenou que todas casas fossem abandonadas e evacuadas pois as condições de vida não eram dignas de uma sociedade supostamente civilizada. Viviam em grutas, sem luz, água potável famílias inteiras lado a lado com os seus animais.

Mas como chegou Matera a este ponto?

Com a Revolução industrial a crise começou a acentuar-se devido à desvalorização da pastorícia. Esta mudança gradual teve grande impacto nas populações, ao mesmo tempo que Matera crescia em número de habitantes. O golpe final foi o começo da segunda grande guerra mundial e o agravamento da crise económica em Itália. Foi aqui que se atingiu o ponto máximo da decadência de Matera. Famílias numerosas encavalitavam-se por entre grutas, e buracos, lado a lado com burros, ovelhas, porcos, galinhas, convivendo também com uma escassez crescente de água potável e dificuldades no armazenamento da pouca que tinham.

O lixo era simplesmente depositado na rua e não havia esgotos nem canalização. Todo este cenário apocalíptico desencadeou um aumento das doenças, das mortes e a debandada geral. Por tudo isto foi decretado pelo governo que Matera era uma vergonha nacional e que ninguém deveria ali viver.

Após alguns anos ostracizada, o turismo trouxe vida de novo às suas grutas. Aos poucos começaram a ser convertidas em hotéis boutiques, guesthouses ou restaurantes. A dinâmica nunca mais parou e diria que o seu apogeu deu-se com a nomeação de Matera a capital europeia da cultura em 2019.

Francisco Agostinho | Bidoeira de Cima 8/9/2021

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