Médio Oriente

Viagem ao Líbano | Momentos especiais num país em ebulição

Arte de rua em Beirute

Desde a minha primeira visita em 2017 as diferenças neste pequeno país do Médio Oriente são assustadoras

A minha terceira viagem ao Líbano revelou um país mais sujo, mais pobre, mais escuro, decadente. Tem justificação.

Solidificou-se uma gravíssima crise económica, seguiu-se uma tentativa de revolução, aconteceu a explosão no porto de Beirute e agravam-se consequentemente as tensões entre as diversas fações na sociedade libanesa. Isto tudo reflete-se nas ruas com a sujidade, a escuridão, o desespero reinante nos rostos de muita gente, a contrastar com o humor negro inevitável que os faz e ajuda seguir em frente.

Mas há algo que o Líbano me deu que nas outras viagens não tive oportunidade vivenciar de forma tão acentuada e intensa, mesmo com o país em melhor estado de saúde.

Generosidade e partilha.

Aos olhos do meu amigo João Sousa, residente no país fui levado a algumas experiências, habitualmente fora dos habituais roteiros. Quero apenas partilhar alguns como exemplo.

BAIRRO SHATILA E SABRA

Nos arredores de Beirute, há vários campos de refugiados, dois deles são o bairro de Shatila e Sabra. Nestes, ocorreu um massacre que matou centenas, ou quiçá milhares de civis palestinianos e libaneses nos anos 80, supostamente apenas porque eram população excedente.

Perpetrado por cristãos maronitas extremistas, sob o olhar consentido dos invasores israelitas é um dos lugares mais intensos no Líbano para visitar. Falar com gente que presenciou este horror é algo marcante e que deve ser lembrado.

BAIRRO ARMÉNIO BOURJ HAMMOUD

No bairro Bourj Hammoud de Beirute visitei um centro de preservação de cultura da Arménia onde duas gerações partilharam o seu amor pelas suas tradições, e foi especialmente comovente, ver uma senhora com mais de 100 anos esforçar-se para tocar piano para o grupo presente.

Acima de tudo, fiquei surpreendido com a união desta comunidade, e a boa energia que transmitem, traduzida nas várias iniciativas para que seja feita a preservação da sua identidade sem se colocarem de parte do quer que seja. Uma lição de integração? Talvez.

O final do encontro, foi preenchido com um almoço arménio mas já com influências libanesas e do Médio Oriente. Foi perfeito.

Duas gerações de refugiados arménios no Líbano

TRIPOLI E O BAIRRO TABBANEH

Inesperadamente, na cidade de Trípoli fomos convidados por um local a visitar o bairro Tabbaneh, um dos lugares mais difíceis do país, com constantes tensões entre muçulmanos sunitas e alaouitas. Com sede de contar a sua história, e a do seu esburacado bairro, percorremos as ruas deste lugar, lutando com o calor de cerveja na mão. Lindo.

Para além de ficar com noção que muito há para resolver por aqui, tive uma aula de armamento, interpretando os vários tipos de buracos nas paredes. Se seriam de morteiros, metralhadoras ou obuses, entre outras curiosidades. Fez-se história.

Bairro Tabbaneh em Trípoli

SUL DO LÍBANO

Outra experiência inesquecível foi uma tarde passada mais a sul, numa região fustigada pelos constantes sobressaltos de vigilância apertada pelo país vizinho a que alguns locais chamam de “México”.

Um almoço recheado da verdadeira e deliciosa comida caseira, boa disposição, muitos sorrisos e carinho.

A surrealidade do cenário surge quando sei que aqui mesmo nesta casa em que fomos recebidos, durante o último conflito com Israel, em 2006, “aterrou” uma bomba que a destrui por completo, não morrendo ninguém por mero acaso.

Desta vez apenas fui invadido por paz e alegria e o que passou, passou. O Líbano é apenas o hoje e agora, o amanhã é um luxo a que os libaneses atualmente não têm direito.

Não só vi o Líbano, mas vivi o Líbano. Obrigado João.

Texugueira | Bidoeira de Cima 18/08/2021

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