Estou em Shkoder de novo depois da minha breve passagem por Tirana e Berat. A manhã chegou com náuseas e vómitos. Algo comido na véspera está a dar luta no meu estômago. Logo hoje que tenho programado “só” uma das dez mais belas viagens de barco do mundo e uma estadia num dos locais mais idílicos dos Balcãs cada vez mais frequentado por intrépidos mochileiros de todo o mundo, as montanhas de Valbona.
Os transportes na Albânia não são dos mais fáceis do mundo, isso é verdade. Assim, para esta viagem até aos Alpes Albaneses-Valbona optei pela forma mais fácil que foi contratar o serviço completo no hostel onde pernoitei pela boa quantia de 25€ só ida e alojamento. Ou seja:
- Viagem de carrinha de Shkoder até ao Lago Koman
- Ferry Lago Koman-Fierze
- 1 noite com pensão completa no Parque Nacional de Valbona
NOTA: Poderá fazer tudo de forma independente comprando tudo à parte, o preço será o mesmo, variando a opção de alojamento que escolher em Valbona (caso pretenda) veja aqui.
Por volta das 7h como combinado, uma carrinha de 9 lugares que faz também serviço para os locais chega e leva-nos de Shkoder até ao início do Lago Koman de onde o ferry partirá pelas 9h.
Alguns troços da estrada que liga Shkoder até à barragem que deu origem ao Lago é bem sinuosa e está em mau estado, valeu que este condutor era cuidadoso e assim a minha má disposição pelo menos não piorou. Sim, o lago não foi obra de Deus, foi sim obra do bizarro e cruel ditador comunista Enver Hoxha que nos anos 80 decidiu construir uma barragem no rio Drin dando origem a este lago chamado Koman que provém de uma povoação próxima. As paisagens vão sendo mais deslumbrantes à medida que nos aproximamos do destino.
À chegada ao “porto” vejo dois ferry capazes de transportar carros, uma carroçaria de autocarro transformado em barco e uma lancha que já estava cheia de pessoas e pronto a partir. Não sei bem onde me dirigir. Questiono um dos moços que suponho ser trabalhador do ferry sobre qual devo apanhar, diz-me que é o grande. Pergunto-lhe se posso ir num dos mais pequenos. Ri-se e aponta para o relógio. Rapidamente percebi que demoraria muito mais tempo pois seria sobretudo para os locais, teria gostado mais de ir num desses, seria uma experiência mais enriquecedora, há ainda bastantes aldeias nas montanhas que circundam o lago e que utilizam este meio de transporte, o que para mim foi uma surpresa. Mas também o meu estado intestinal/estomacal não estava para brincadeiras portanto “deixa-te de aventuras por hoje…”-pensei.
Fiz um grande esforço amigos. Por vezes a minha vontade foi dizer ao comandante do ferry que não aguentava mais e que acelerasse a coisa se possível. Estava mesmo doente. Tão doente que no meio daquelas fabulosas paisagens tive mesmo de me refugiar no interior do barco, sozinho.
Uns largos minutos a absorver tudo o que estava à minha volta foram contudo suficientes para me ajudarem a levantar o moral. Algo arrebatador me puxava lá para fora, só algo assim me poderia ter feito levantar da cadeira onde me contorcia com dores abdominais.
Por um lado questionava-me porque não era isto mais visitado por turistas mas ao mesmo tempo agradecia por ter tão poucos e estar tão intocável este pedaço da Europa.
Avisto um ferry abandonado. Devemos estar a chegar ao fim. Assim é. Saio e já tenho um senhor com ar bonacheirão de seu nome Arben com uma carrinha particular à minha espera. Á minha, e de mais 5 pessoas, ou seja vamos 7 num carro para 5. É Albânia. Assimilo rapidamente. Já dois alemães que iriam comigo seguiram intrigados….e desconfiados.
VALBONA:
Num inglês misturado com alemão e albanês, Arben diz-nos que é ele que nos levará aos alojamentos. Ok. Rapidamente o gelo é quebrado, Arben arranha alemão, depois quando me pergunta de onde sou, lá vem o Cristiano Ronaldo e com isto tudo, afinal um dos alemães afinal é um brasileiro emigrado que estava desejoso de falar português! Siga, para Valbona. Estamos bem entregues.
Arben faz uma paragem em Bajram Curri para comprar espinafres e fruta, aproveitamos a onda e especialmente eu pensava em bananas que provavelmente seria boas para o meu problema. Aviei-me com 1kg que Arben paga. Bajram Curri é a cidade que serve de base e tem as infraestruturas básicas como escolas, hospitais e bancos para os aldeões quem vivem no vale de Valbona em plenos Alpes Albaneses.
Estamos bem apertadinhos, mas as vistas superam tudo. Vacas, muitas vacas. Agricultores. Ovelhas. Prados verdejantes e “suculentos” fazem as delícias dos animais. O céu está limpo apenas com algumas nuvens cobrindo os picos que ainda têm neve. Lembro-me da Suiça mas uma Suiça se calhar que nunca existiu, uma Suiça pobre. Muitas casas e igrejas de madeira. Começamos a subir numa estrada em muito bom estado e nova.
Um rio, o Valbona atravessa-se agora no nosso caminho e acompanha-nos sempre ao longo do caminho. O vale vai se afunilando cada vez mais. Arben faz mais uma paragem e diz a todos os passageiros para saírem, senti-os um pouco desconfiados. Eu fico. Algures atravessando o rio e no meio de uma floresta estará uma guest-house, e é para lá que vão os meus mais recentes companheiros de viagem.
Agora estou sozinho com Arben. Ainda pensei, mas porque será?- Mas até pensar me fazia doer a barriga. Deixo-me levar. O que for há de ser, já dizia o meu saudoso pai.
Reparo ao longe numa placa com o nome Arben e o que é supostamente o seu número de telefone. Arben pára e diz-me para seguir o caminho até uma casa. Ok chefe. Aí vou eu…atravesso o Valbona numa ponte de madeira.
Vejo uma silhueta ao longe que se assemelha a uma mulher e abre uma cancela em madeira. Vejo agora uma casa. Iria pernoitar com a família de Arben. Perfeito, não poderia ser melhor, ou aliás, até podia se estivesse bem de saúde. Desconfiei logo que iria ser tratado como um deles ou melhor, não me enganei.
A casa é simples e humilde mas asseada. Sou recebido afectuosmente (dentro dos parâmetros religiosos muçulmanos) pela esposa de Arben, fala muito bem inglês. Foi como a minha mãe em Valbona. Têm dúvidas ? Á chegada perguntou-me logo se estava bem pois não tinha muito boa cara. Pálido e branco disse. Indica-me onde fica o meu quarto. Estou em boas mãos. Chá para começar. Um duche e deito-me. Adormeço e quando acordo julguei que estava no céu.
Descubro que não estou sozinho, isto é, há mais hóspedes na casa, são dois ingleses, um rapaz e uma rapariga que vieram aqui fazer vários percursos de montanha a pé. Antes de jantar decido caminhar um pouco em redor da casa, preciso respirar, talvez o ar fresco da montanha ajude a superar aquilo que cada vez mais acho que foi uma intoxicação. Começo-me a recordar de uma sopa que comi em Shkoder…e não me traz boas memórias. Diagnóstico feito.
Começa a soprar uma brisa fresquinha, é final de tarde. Tenho tempo para filmar um pouco com o telemóvel todo aquele espectáculo de tranquilidade suavizado pelo som relaxante da forte corrente do rio.
É hora de jantar. Peixinhos do rio fritos com salada e arroz. Praticamente não como nada com muita pena minha. Bebo mais um chá e sento-me no sofá. O serão é passado a jogar ao dominó. Ainda resisto um pouco mas depois entro na brincadeira. O tempo passa depressa, e vou-me deitar espero no dia seguinte estar pelo menos a 60/70%.
Fico a saber que este destino é muito procurado por jovens mochileiros que por aqui exploram toda a região em longos trekking’s. Na sua maioria alemães, malta da Escandinávia (perdoem-me a abreviatura) e polacos, os restantes vão aparecendo aos pouquinhos. Existem vários percursos assinalados e em qualquer alojamento ser-lhes-ão dadas todas as informações. Como devem calcular não tive possibilidades físicas de explorar esta vertente.
Tinha pensado ficar mais uma noite, mas não estou capaz de tanta interacção social. Logo eu que procuro sempre experiências locais não me foi permitido vivenciar tudo isto com outro ânimo.
A manhã acorda-me e sinto-me um pouco melhor, um pouquinho…Tomo o pequeno almoço e digo a Arben que quero regressar a Bajram Curri e aí tomar o caminho para o Kosovo através de mini-bus.
Poderia ter tirado mais fotos com a família mas não tive impulso suficiente, quis desligar-me o máximo possível já que tinha muito pouca rede de telemóvel e internet nem vê-la, ainda bem. Sabe bem desligar.
NOTAS: Se procura um local na Europa para se “refugiar” creio que aqui será o sítio ideal. A estrada é surpreendentemente boa se vier do lado do Kosovo. Vindo de Tirana ou de Shkoder a forma mais confortável de aqui chegar é através do Ferry Koman-Fierze. Se quiserem uma experiência mais autêntica reservem 2 noites na casa de Arben (não tenho comissão) através do número: 00355 (0)68 36 81 803. Se pretender outro tipo de estabelecimento hoteleiro pode ver aqui.
rui batista
1 Julho, 2017Francisco, não tive a oportunidade (tempo, na verdade) de ir aí… e acabaste de me dar (mais) um excelente motivo para voltar à Fantástica Albânia. Tem sigo sido excelente seguir-te por aí… recordar um dos mais encantadores países da Europa. Um dia combinamos em Portugal e trocamos ‘cromos’ 🙂
projecto100rota
3 Julho, 2017Tem de ser Rui, gostava de viajar contigo apesar de não te conhecer pessoalmente penso que poderás ter uma onda de que aprecio, temos de conbinar isso, a sério! Aí num destino maluco!
Declev Reynier Dib-Ferreira
1 Julho, 2017Que lugar maravilhoso! Albânia é um destino que ainda não fomos e, confesso, não estava nem na lista. Agora vou repensar… rs. E que situação a sua hein?! Passar mal durante uma viagem é muito ruim! Abraços,
projecto100rota
3 Julho, 2017Pois é foi a minha estreia com indisposições! Obrigado e abraço!
Gabriela Torrezani
2 Julho, 2017Gente, que verdadeiro espetáculo da natureza!!!! Eu adoro esse tipo de viagem, ou seja, preciso mesmo conhecer a Albânia. Belíssimas fotos, parabéns 🙂
projecto100rota
3 Julho, 2017Obrigado Gabriela, boas viagens !
Alessandra Fratus
2 Julho, 2017Que lugar maravilhoso! Paisagens deslumbrantes. Como é bom saber que o mundo é recheado de lugares maravilhosos que a gente não conhece! Lindo artigo.
projecto100rota
3 Julho, 2017Ainda bem que gostou Alessandra ! Boas viagens!
Luciana Rodrigues
2 Julho, 2017Meu deu mais vontade ainda de ir à Albânia. Já começo a sonhar com essas paisagens.
projecto100rota
3 Julho, 2017Tens de ir ! A Albânia tem paisagens mesmo idílicas!
Eliana C. Pereira
2 Julho, 2017Que lugar lindo!!! Não imaginava que a Albânia tinha tantas paisagens maravilhosas!!! Já quero conhecer!!!
projecto100rota
3 Julho, 2017Nem eu Eliana!! hehe boas viagens!
Marcia Picorallo
3 Julho, 2017Ahaha, tem brasileiro em todo canto do mundo! E eu também sofira nas viagens com Ronaldo, quando dizia ser brasileira! Lindo lugar, ótima escolha – poucos turistas!
projecto100rota
3 Julho, 2017Quando Ronaldo desaparecer ninguém vai saber onde é Portugal hahahaha
Maíra
3 Julho, 2017Imagens lindas e diferentes da Albânia! Não estava na minha lista, mas me interessei bastante!
projecto100rota
3 Julho, 2017Acho que a Albânia merece um cantinho aí na sua lista hehehe Obrigado e boas viagens!
Renata Rocha Inforzato
5 Julho, 2017Que fotos lindas! A Albánia já entrou pra minha lista de lugares para ir. Parabéns
Edson Amorina Jr
6 Julho, 2017Nós fizemos Bosnia e Herzegovina e Montenegro, mas acabamos que não fomos para a Albânia. Muito bom post, muito lugar lindo para visitar.