Finalmente Mardin. Há muito que desejava visitar esta cidade apelidada comummente de “pérola ou jóia do sudeste da Turquia”.
Sudeste da Turquia, ou região do Curdistão turco? Oficialmente sudeste da Turquia ou sudeste da Anatólia. Para alguns…região do curdistão turco. Um conselho para evitar muita conversa; se visitar Mardin pode simplesmente referir: “esta região da Turquia”.
Torneando o Rio Tigre que marca a fronteira com a Síria durante largas dezenas de quilómetros, cheguei a Mardin vindo de uma longa e demorada viagem de autocarro desde a Região Autónoma do Curdistão Iraquiano.
Confesso que olhar para a janela do autocarro e ver durante tanto tempo a escassos metros de distância a martirizada Síria magnetizou me o olhar e fez-me esquecer a “entrevista” policial na fronteira a que fui sujeito.
Não era de admirar. PKK-Partido dos trabalhadores do Curdistão, já ouviram falar? Ora, um gajo sozinho, cheio de carimbos no passaporte de países do Médio Oriente, europeu, vindo de Erbil, na parte curda do Iraque. Suspeito. Curdos-turcos-turcos curdos…longa história. As perguntas foram desde: “Já ouviu falar do PKK?”, “O que acha do tema?”, “Tem amigos no Iraque?”, “Posso ver o seu telemóvel?”.
Fiquei pensativo mas não preocupado, foram corteses mas firmes. Tinha fotos de bandeiras do curdistão, e aí é que me perguntaram com cara de poucos amigos:-“why?” e eu respondi:-“Why not, I have some turkey flags to”.
Posteriormente e após uma pequena “conversa” apenas me disseram que eram procedimentos normais hoje em dia, e perante o meu perfil eram “obrigados” a segui-los. Lembraram-me que milhares de pessoas que fizeram exactamente este percurso para se dedicarem ao ISIS, e que devido ao fim (ou não) da guerra vão por ali tentanto regressar à europa. Com tudo isto, o autocarro teve de esperar por mim quase uma hora.
Acabei por chegar a Mardin já ao fim da tarde, e é de Mardin que vos quero falar, vamos a isso?
ONDE ENCONTRAMOS MARDIN?
A cerca de 1500km a sudeste de Istambul, a uns bons 750km a noroeste de Bagdade e a uns escassos 100km de Dyiarbakir -a principal cidade do sudeste da Turquia.
MAS A TURQUIA É UM PAÍS ENORME, E COM TANTO PARA VER, PORQUÊ VISITAR MARDIN?
Em primeiro lugar porque li que Mardin- e a sua região– foi habitada por vários povos entre os quais: Babilónios, Persas, Romanos, Assírios, Árabes e Otomanos, e isso fez me acreditar que a cidade tem uma herança cultural como poucos lugares na região.
Depois acabei por descobrir que Mardin está estrategicamente a meio caminho numa rota outrora primordial, conectando Istambul com a Síria e as importantes cidades de Aleppo e Damasco, e mais directamente a Erbil e Bagdade no Iraque.
Fiquei a saber também que a cidade serviu como vigia e defesa de um dos postos avançados da guarnição do Império Romano mais a leste. Conjuntamente é na região de Mardin onde reside o maior número de árabes cristãos na Turquia.
Não de somenos importância é a arquitectura. Aliás, à primeira vista seduziram me bastante várias imagens que fui vendo na internet das suas casas monocromáticas, estrategicamente organizadas em linhas paralelas, para que todas pudessem ser iluminadas pelo sol olhando a paisagem voltada a sul. Infelizmente não consegui nenhuma fotografia digna para ilustrar isto.
Confesso que tinha também um secreto desejo de tomar o pulso à situação curdos-turcos que tem aqui alguns focos bem intensos e vivos, além da própria Mardin, nomeadamente na cidade de Cizre a 150km de Mardin, e em Dyiarbakir.
Para mim mais do que ingredientes suficientes para achar que além de uma região bonita, é uma região cheia de carácter e carente de ser explorada devido ao medo que muitos turistas ocidentais têm de vir para estas bandas. Olhando para trás não me lembro de ver um único turista europeu ou das américas por aqui, nem um!
Mardin no seu centro histórico
O QUE VER/FAZER EM MARDIN?
Mardin tem muito para ver. Claro está que depende muito daquilo que queremos. Posto isto, deixo-vos aquilo que mais me marcou fazer nesta bonita cidade turca:
1-Conhecer as pessoas
Eu sei. Eu sei. Já é um habitué em tudo o quanto são artigos em que o Médio Oriente esteja envolvido. Mas que fazer? É a verdade. Ainda que Mardin seja bastante turística –entre turcos e países dos arredores– foi muito fácil a minha relação com aquele pessoal. Só um detalhe…falar inglês é mentira.
2-Comprar o típico sabão natural de Mardin-“Bitim”
Ao percorrer as ruas de Mardin reparei que há muita oferta de produtos alusivos ao sabão natural. Numa dessas lojas percebi que o tradicional de Mardin é um sabão feito a partir do óleo de pistachio selvagem, uma árvore/arbusto que cresce nesta região. Sou um curioso e fã destes “produtos da terra” e já em Nablus na Palestina fiquei a conhecer como se faz este produto de forma artesanal.
Há para todos os gostos, aromas e até ao quilo! Sem químicos e a um preço estupidamente barato, desde 1€. Como resistir?
3-Frequentar um Hammam
É uma experiência obrigatória! Já tinha frequentado um há uns anos mas já não me recordava das sensações. Fi-lo logo no dia de chegada pois o cansaço era muito devido à viagem no dia anterior. Valeu muito a pena e por pouco mais de 6€ sabe bem levar uma boa esfregadela no corpo.
Visitei dois, mas confesso que gostei mais do Emir Hammam utilizado por alguns turistas mas também por muitos locais, o impressionante é que há registos que colam as suas origens à época romana!
PS- Foi na sauna do Hammam que percebi que o mais sensato é nunca pronuciar curdistão por estas bandas.
Segundo um companheiro que comigo suava –alguém ligado à política local– diplomaticamente me”ensinou” que o curdistão não existe. Segundo ele nem mesmo o Iraquiano.
Assim seja.
4-Comer
Em viagem –principalmente quando estou sozinho– perco-me várias vezes no tentador mundo da gastromania. Na Turquia então é demais. Gosto de tudo. Os salgados, os doces, o vinho. Tudo. Para ajudar à festa a comida é barata, mesmo na maioria dos restaurantes. Resultado? Engordei.
Como é possível não ceder a uma pastelaria/padaria com uma vitrine assim à saída do meu hotel?
5-Visitar uma Mesquita
Como devem calcular existem várias em Mardin. A que achei mais interessante é mesmo a “Grande Mesquita” ou “Ulu Cami” construída provavelmente no século XI durante a dinastia Seljuk. O minarete é deveras interessante e será mais antigo segundo o que li no local. Ambas as infraestruturas foram restauradas no século XIX.
6-Perder-me nas ruas de Mardin e vêr o pôr do sol do topo da colina
A minha última actividade desta lista, mas quiçá a primira das minhas preferências pessoais. De facto para mim o melhor para fazer em Mardin –se em forma física razoável– é descer e subir as ruelas empedradas da velha cidade, subir aos telhados, procurar miradouros, descobrir bazares e ver a vida a rolar.
O pôr do sol desta vez traiu-me e em nenhum dia houve condições metereológicas de feição. Não faz mal, já tenho mais um forte motivo para voltar.
Até já Mardin!
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