Cheguei a Ramallah na Palestina vindo de Jerusalém onde tinha estado nos últimos 3 dias.
Da cidade apenas sabia que é a capital da Palestina, ou melhor…da Autoridade Palestiniana, que seria mais liberal e aberta que outras cidades do território, que para lá chegar teria de atravessar um enfadonho e triste “checkpoint”, e que foi quartel-general de Yasser Arafat até poucos dias antes da sua “misteriosa” morte num hospital em França.
Mural no “Checkpoint” de Qalandia
Demorei uns longos 50min para percorrer pouco mais de 20km. É ridículo. Tudo por causa do muro, e de uma espécie de fronteira entre dois povos irmãos mas que teimam em andar à porrada de vez em quando. Sei que não é assim tão simples…ou será?
Apesar de não saber exactamente quantas noites aqui permaneceria, decidi reservar o alojamento na véspera, um hostel com aspecto muito clean junto ao que me parecia ser o centro da cidade. Na realidade era mesmo muito confortável e a localização excelente. Um dos melhores alojamentos deste tipo onde pernoitei até hoje. O Habibi Hostel.
Daqui ao centro da cidade era uma curta caminhada de 10min. Perfeito. Mas “mais” perfeito ainda foi descobrir que daqui até ao Museu Yasser Arafat também era facilmente acessível a pé. Foi o que fiz, logo após uma longa conversa com o gerente do hostel sobre o mundo…e sobre o conflito israelo-palestiniano.
Depois de saber que muitos palestinianos anseiam que apareça alguém tipo: “Nelson Mandela”, fui visitar o túmulo e museu em homenagem a Yasser Arafat, o símbolo maior dos combatentes palestinianos e antigo presidente da OLP (Organização para a Libertação da Palestina).
Entrada do complexo de Yasser Arafat
Aprecio arquitectura contemporânea e apreciei muito mesmo este complexo construído no exacto local onde Arafat teve o seu Quartel-general a Muqata.
Neste exacto local em 2002, Israel, em resposta ao assassinato de um ministro do seu governo -alegadamente por jovens combatentes palestinianos- decide invadir Ramallah e cercar por completo a Muqata pressionando Arafat a entregar os assassinos.
Ao fim de praticamente 1 mês o cerco termina, mas foi só o primeiro de muitos avanços e recuos. Arafat não mais seria livre, passando assim praticamente os últimos 2 anos da sua via cercado e bombardeado por ser considerado o principal obstáculo à paz. Arafat já num estado bastante debilitado de saúde é transferido para um hospital de França onde morre em Novembro de 2004.
À chegada fui recebido com sorrisos e perguntas acerca de onde sou. Não há turistas. Previa uma certa solenidade no lugar mas isso não se confirmou. Mesmo com os soldados que honorificamente guardam o túmulo o à vontade é grande e podemos conversar e tirar fotografias.
À esquerda do edifício do túmulo está uma mesquita e sou convidado a entrar por um funcionário que descubro saber falar português. É brasileiro, mas vive na Palestina há mais de 20 anos. Houve questões amorosas pelo meio. Normal. Antes de se despedir abraçou-me e disse-me que estava muito feliz por poder falar português…emocionou-se e emocionou-me…
O meu amigo brasileiro de Ramallah
Terminado este inesperado encontro segui em frente para visitar o Museu e o edifício que Arafat utilizava como Quartel general, a Muqata.
O Museu –muito bem estruturado na minha opinião- conduz-nos cronologicamente pela conturbada história da região e é uma espécie de ponte que nos leva até aos últimos dias de vida de Arafat.
Uma das riquezas que a viagem me proporcionou foi o facto de estar constantemente a ser desafiado por dois pontos de vista opostos. Ao fim de alguns dias percebi isso e criei uma armadura que me permitiu não me deixar influenciar por nenhuma das partes… Acho que pode ser útil essa ferramenta a quem se aventurar por aqui.
A fome tinha chegado. Ainda no hostel precavi-me e informei-me onde poderia degustar um bom falaffel. Do complexo Yasser Arafat até ao centro é um pulinho de 20/30min a caminhar devagar, como ainda era cedo resolvi descansar um pouco no hostel –que ficava a caminho– e só saí à hora de jantar.
Valeu bem a pena a dica, numa esquina de uma rua que desagua numa das rotundas principais de Ramallah encontrei o meu paraíso, e comi, nem 1, nem 2 mas 3 sandes de Falaffel de tão bom que era!! Desconfiei logo que seria algo especial pois a fila de pessoas começara a acumular-se em volta da pequena banca.
O dia que se seguiu em Ramallah não me permitiu visitar e estar na cidade durante o tempo que desejaria, todavia permitiu ainda ter tempo de passear um pouco, e jogar futebol com uns simpáticos miúdos nas ruas do modesto centro histórico da cidade.
Os meus companheiros de futebolada em Ramallah
Além de muitas lojas, alguns vendedores de rua, e um surpreendente mercado de fruta e legumes, Ramallah já pouco mais teria para me oferecer, pelo que após o meu pequeno tour, apanho um táxi “service”, isto é, partilhado, e parto em direcção a Nablus, uma doce e resistente cidade no norte da Palestina.
Boas viagens!!!
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Eloah Cristina
31 Março, 2018Belíssimo texto e roteiro! Devo dizer que aprendo muito lendo sobre as viagens de vocês.
projecto100rota
31 Março, 2018Obrigado Eloah, fico muito feliz, beijinhos 😉
VICTORIA M FARINA
31 Março, 2018Nossa, que história legal! Adorei seguir viagem com você e me emocionei quando contou do brasileiro. Realmente faz muita falta falar português e ele deve ter ficado super feliz com a sua presença lá. O destino coloca pessoas no nosso caminho que nem imaginamos porque, não é? 🙂
projecto100rota
31 Março, 2018Obrigado Victoria por suas palavras, boas viagens!
Vitor
31 Março, 2018Grande artigo,tenho pena de não poder ter ido há Palestina!!!fico me com a tua viagem..obrigado
projecto100rota
31 Março, 2018Hás de ir, grande abraço 😉
Camila Neves
31 Março, 2018Que demais que teve ter sido essa experiência! Muito emocionante o encontro com o brasileiro e confesso que fiquei com água na boca de falafel! 🙂
Janete
31 Março, 2018Que sorte quando nas nossas viagens conseguimos fazer a diferença e marcar a vida das pessoas com quem nos cruzamos! Registei as suas dicas!
Juliana Moreti
1 Abril, 2018Ótimo relato!
Bom saber que, se um dia eu visitar esta cidade, poderei encontrar alguém que fale em português! O Museu Yasser Arafat me pareceu muito interessante. Ele me lembrou o Museu da Memória e dos Direitos Humanos presen te no Chile..
Katarina
2 Abril, 2018Que massa o seu relato, o roteiro parece muito interessante! E grande parte da beleza de viajar está nessas experiências, emocionante. Eu amooo falafel, fiquei com água na boca, haha! <3
Viviane Carneiro
2 Abril, 2018Adorei o relato e o roteiro super interessante! Deve ter sido uma viagem inesquecível e bem diferente. Amei!