Médio Oriente

Visitar o Iraque | AQRAH uma cidade à minha medida | Curdistão Iraquiano

Vamos lá. Eu sou um pouco estranho nos meus gostos citadinos. Isto é, frequentemente às grandes cidades acho-lhes piada, durante um dia. Ok… eu faço um esforço, dois dias está bom; a seguir tirem-me dali para fora, please!

Não consigo em tão pouco tempo responder a tantos estímulos exteriores; sonoros, visuais, olfactivos, sei lá que mais. Enfim, absorver e sentir a alma à “coisa”, se é que há disso para sentir ou absorver no meio de milhões de pessoas que correm de um lado para o outro não havendo tempo para ninguém.

Todavia, se essas grandes cidades tiverem um centro histórico compacto e que sobretudo dê para andar a pé, aí já a conversa é outra.

Posso dar-vos exemplos de grandes cidades que gosto muito, algumas paixão à primeira vista, outras em que fui aprendendo a tomar-lhe o gosto, tais como: Marraquexe, Telavive , a gigantesca Teerão, a quase perfeita –para mimLeiria ou ainda surpreendentemente na minha pseudo lista a caótica e feia Amã, na minha querida Jordânia.

Mas esta lenga-lenga para dizer o quê? Basicamente para vos passar a mensagem –se é que isso vos interesse– que para mim o tamanho ideal de uma cidade é; nem grande nem pequena, nem confusa nem monótona. No Curdistão Iraquiano encontrei isso em Aqrah.

Não encontrei museus, nem informações turísiticas de qualquer espécie, mas percebi que há pessoas honestas, simpáticas e sedentas por falar com forasteiros . Mas principalmente pessoas com tempo para nós. E para mim isso bastou.

Não tinha planos para dormir aqui, por isso estava carregado até aos dentes. À chegada, ainda na zona nova da cidade pressenti logo que ia gostar. Neste caso adoro ter sempre razão!

Fui recebido de braços abertos num restaurante de Shwoarma e para além de um “drink welcome” vestido de SevenUp ofereceram-me a refeição, seguindo-se uma esforçada explicação –em linguagem gestual- de onde ficava o centro mais antigo da cidade, que era para onde queria ir.

Mas há mais. Como nesse momento chovia torrencialmente, o manager do restaurante mandou parar um táxi e percebi que lhe disse para me levar até ao centro. Tive de pagar? Claro que não. Hospitalidade curda.

E lá estava eu, no centro desta prazeirosa cidade de maioria curda. Um largo, umas lojas, homens a beber chá e na conversa. Só faltava o rádio ao ouvido a ouvir o relato, e rapidamente aquele cenário me transportava para um Domingo à tarde numa qualquer aldeia portuguesa.

Deixei-me estar a apreciar a calma. Sabia que a subida que me aguardava e iria dar cabo de mim, tinha-a avistado desde o táxi. A mochila, essa, ficaria a cargo do dono do estabelecimento onde bebi mais um chá -de entre os milhares que bebi nesta viagem.

Fixei como objectivo subir até ao topo da colina por onde se espalha Aqrah antiga. Foi uma longa, dura, mas agradável caminhada. Para além de umas paragens rápidas para ir contamplando a paisagem, descansei à porta de uma igreja cristã que apesar de estar em bom estado de conservação –pelo menos por fora– me parece abandonada.

Lá do alto, onde remanescem ruínas de um antigo castelo ou forte, as vistas foram convincentes e “forçaram-me” a permanecer ali o resto da tarde deitado na relva. E porque não? Gosto de o fazer. Mas desenganem-se. Nem sempre foi assim, em tempos era bem difícil alguém conseguir parar-me durante longos 20 minutos, a olhar para algo que lá achasse que não era agitado o suficiente.

Ao final da tarde lá desci, mas quiçá tivesse conhecimento de algum alojamento na zona antiga e teria ficado aqui a pernoitar sem hesitar. Hotéis só na parte nova, e a uns longinquos 6/7km do centro.

Ainda antes de partir em direcção a Dohuk –de onde regressaria de autocarro à Turquia e visitaria a cidade de Mardin – um padeiro ofereceu me pão e um jovem iraquiano fumador (do qual tenho foto mas não publico) dos seus 12/14 anos pediu-me cigarros.

Aqrah bastou-me. Foi assim, singela e humilde. Sem pressas.

Boas Viagens!

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